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Não, este post não é sobre a campanha para as últimas eleições europeias. Este post é sobre fenómenos sociais e sobre empresas/ profissionais que querem agarrar a onda desses mesmos fenómenos para obter maior exposição da sua marca e vender mais (ou aumentar notoriedade ou outro qualquer objetivo).
Há uma coisa que importa a reter: não se deve tentar capitalizar uma dada tendência se não a compreendermos. Isto parece-me óbvio e acho que é relativamente fácil de interiorizar. Dito isto, vamos à estória.
Há dias vi ser partilhada no Twitter a página de um curso de formação cujo objetivo era o de ensinar os seus participantes a gerir uma marca pessoal nas redes sociais (abro um parêntesis para mencionar que uma das minhas atividades profissionais é a gestão de um projeto empresarial na área da formação, pelo que vou intencionalmente abster-me de mencionar nomes de empresa, pessoas ou marcas). Até aqui tudo bem, todos nós sabemos a importância da internet e das suas ferramentas para o nosso marketing pessoal e para a gestão da nossa carreira, é por isso natural que surjam projetos com o objetivo de dar competências às pessoas neste domínio.
O que não está tudo bem é o que escrevo já de seguida. Além de ser muito curioso, tenho particular apreço quer pela formação quer pelo marketing, pelo que assim que me aparece um link destes à minha frente é click garantido. E lá fui eu ver a descrição do curso. Tudo ia razoavelmente bem – falava de conteúdos, de imagem, das várias ferramentas, etc - até que chego a esta parte: “Como fazer a sua melhor selfie”, com as dicas para tirar as melhores fotos com o smartphone. E aqui começou a entornar o caldo.
Uma selfie é uma fotografia tirada por uma pessoa a si própria, sozinha ou com mais pessoas, geralmente partilhada nas redes sociais, com o Instagram e o Facebook à cabeça, e que tem sido um fenómeno comportamental que cresceu exponencialmente. E cresceu porque geralmente as pessoas têm usado as selfies para se mostrarem num dado sítio, a viver uma dada experiência ou até só se mostrarem a si próprias (a selfie é também uma demonstração de algum narcisismo em alguns casos).Ou seja, a selfie não é mais do que a partilha de uma vivência de um dado momento com as pessoas que a seguem nas redes sociais que usa. E é aqui que o tal curso falha na compreensão do fenómeno. Uma selfie, na perspetiva de quem a tira e partilha é um momento, e os momentos não têm técnicas, enquadramentos, dicas, não precisam de se transformar na “melhor selfie” nem precisam de ser ensinados.
Ter uma boa coleção de selfies é importante para a marca pessoal? Talvez. Pode ser em alguns casos específicos. Jamais o será, contudo, se perder o seu essencial – a espontaneidade. E será uma onda como outra qualquer – provavelmente daqui a meia dúzia de meses já não será “cool” tirar selfies e o fenómeno será outro qualquer.
E aqui reside a questão, enquanto umas empresas tentam utilizar as redes sociais para comunicar e interagir de uma forma que não fazem no “mundo real”, outras tentam ensinar as pessoas a estar presentes nas redes sociais com benefícios na sua carreira profissional. E muitas falham. E falham porque não entendem que as pessoas é que ditam como querem interagir e quando querem interagir. E falham porque não entendem que a espontaneidade e a liberdade de expressão que as pessoas sentem nas redes sociais não se ensaia, não se ensina e não se compadece com artificialidades.
E nós, utilizadores das redes sociais, se não percebermos que ganhamos muito mais em sermos nós próprios, muito provavelmente prejudicaremos mais a nossa marca pessoal do que a beneficiaremos.
PS: Só mais uma coisa, se pretendem ensinar alguém a usar uma rede social como o Twitter, por exemplo (pretensão que não tenho), não tenham tweets protegidos ;-) .
*Director geral da Sparkle Business Ignition, Mestre em Marketing
O que está numa imagem? A história que quisermos contar. Uma imagem tem tantos significados quantos aqueles que lhe quisermos dar, e não está imune a interpretações diferentes da do próprio autor. Nos tempos que correm como ciclones, uma imagem torna-se em minutos um ícone, uma referência mundial, com o significado que os influenciadores do mainstream lhe dão e que as redes sociais tratam de globalizar.
Parece que a famosa "selfie" de Obama com Cameron e a primeira ministra da Dinamarca transcendeu o momento e a circunstância, ou melhor, foi transcendida pelo momento, pela circunstância e, sobretudo, por uma boa dose de "clichés" sobre louras predadoras e tensões matrimoniais.
O autor da fotografia, Roberto Schmidt, veio explicar esse momento no blog da AFP. "Capto a cena sem nenhum preconceito. À minha volta, no estádio do Soweto, os sul-africanos dançam, cantam e riem em honra do seu líder falecido. O ambiente é de festa, não de recolhimento mórbido. A ceremónia já dura há pelo menos duas horas, e ainda irá prolongar-se por mais duas horas. O ambiente é totalmente descontraído. Não vejo nada de chocante no que está no meu visor, seja ele ou não presidente dos Estados Unidos. Estamos em África".
O autor também explica que a cara fechada de Michelle Obama foi um mero acaso, ela também teve vários momentos de riso e boa disposição.
Não deixa de ser curioso que aqui seja o próprio fotógrafo a procurar justificar a sua imagem, a dar-lhe o enquadramento em que ela realmente se insere. Estamos cada vez mais habituados a ver trabalhos fotográficos premiados que se vêm a revelar montagens, ou pelo menos momentos que não representam exactamente circunstâncias reais, apenas pelo potencial premiável do chocante.
Aqui, é o fotógrafo que fica chocado com o alcance da sua fotografia.
Nestes tempos de "curadoria" e internet, não somos donos de nada. Nem do que produzimos nem do que consumimos.
*O título inicial era "Anatomia de um instagram". mas não quis corromper o título do magnífico livro de Javier Cercas.
Selfie, que já tem tradução oficial na Infopédia como autofotografia, foi eleita a palavra do ano pelo Oxford Dictionary. O autoretrato, antes confinado a artistas, está agora ao alcance de qualquer fulano com braços e um telemóvel. É um fenómeno social, já exaustivamente analisado por psicólogos e sociólogos, que já catalogaram as diversas espécies de selfies - os exibicionistas, os extrovertidos e os que gostam de estragar a paisagem onde estão. Devo admitir que tenho uns quantos selfies, destinados à minha apresentação nas redes sociais e para ilustrar artigos quando os meios me pedem.
Do ponto de vista da comunicação de marketing, é uma forma de expressão com potencialidades ilimitadas. As marcas e as instituições têm aqui um grande terreno para explorar. Por exemplo, passatempos com selfies e o nosso produto/local/evento.
Há um aspecto desagradável nesta moda. parece que também cresce a tendência para os autoretratos com as "duck faces". A que nem a Mona Lisa escapou. Vou ali fazer umas boquinhas e já volto.
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