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Declaração prévia: gosto do Fernando Moreira de Sá.
Posto isto, a sua entrevista à Visão dá-me o mote para discorrer sobre aspectos da preparação de entrevistas que são sistematicamente descurados, até pelas pessoas mais preparadas.
A máxima mais importante, a reter para qualquer entrevista: estamos a falar para os leitores, não para o jornalista.
Segunda máxima: a entrevista deve ser dada em ambiente controlado pelo entrevistado.
Terceira máxima: não há jornalistas amigos (não confundir com amigos jornalistas)
Estas máximas não foram obviamente acauteladas na famosa entrevista de José Sócrates a Clara Ferreira Alves e na já não menos famosa entrevista de Fernando Moreira de Sá a Miguel Carvalho.
Ambos fizeram questão, como experientes que são nas relações com os media, em não fazer nenhuma exigência ao entrevistador. Ambos sabiam que não há outra forma que não seja confiar na edição do entrevistador para que saia um produto final equilibrado, que dê ao leitor o essencial da conversa.
Esta expectativa sai geralmente, em maior ou menor grau, frustrada, porque o entrevistador não destacou o que achamos essencial e importante, porque destacou um aspecto marginal, porque o título saiu redutor e muita aquém da riqueza das mensagens e do conteúdo que procurámos passar. É normal, não há entrevistas perfeitas porque não há entrevistados nem entrevistadores perfeitos. Ainda assim, há um inimigo fatal: o excesso de confiança. Ou de auto-confiança, ou de confiança no entrevistador.
Em grandes entrevistas institucionais, como foi a de José Sócrates, a edição foi quase mortal. O alinhamento dos temas foi algo caótico e, sobretudo, a não-edição da linguagem coloquial, da conversa "de café" (no caso, de restaurante italiano), que se colou à pele do entrevistado e fez de todos os leitores virgens do século XIX. Evidentemente que a não-edição foi opção da entrevistadora, e certamente não esperada pelo entrevistado.
No caso do Fernando Moreira de Sá. que se proclama publicamente um filho do Norte, tenho a certeza que o entrevistador editou e "limpou" todos os "caragos" da conversa. Ainda assim, o entrevistado viu-se obrigado a prestar esclarecimentos, apesar de frisar a correcção das transcrições do jornalista. O que significa que, provavelmente, depois de vários "jantares no Antunes", as guardas baixaram durante a entrevista formal.
Sobre a qualidade e pertinência dos conteúdos de cada uma das entrevistas, diria que são duas entrevistas históricas. E que dois mestres em comunicação não as conseguiram dominar completamente. Conselho: levem sempre um assessor às entrevistas.
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