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Tão certinho como o aumento de impostos, a exibição de uma folha A4 branca proporcionou mais um suculento episódio de memes, desta vez com o ministro da Economia.
Tudo começou com uma fotografia publicada nas plataformas online do Diário Económico.
Logo surgiu o serviço comunitário para preparar o terreno.
E em menos de quatro horas, o ministro teve direito a hashtag #piresdelima no twitter e a arquivo no tumblr.
Dezenas de imagens começaram a pulular nas redes sociais. E eu já tinha avisado sobre isto em maio passado, senhor ministro.
É uma técnica conhecida e usada em comunicação política e relações públicas. A desculpa não-desculpa serve, contrariamente à maioria das expectativas, para obviar a admissão de culpa ou responsabilidade de quem a pede.
Quando o país se entusiasmou com dois dias seguidos de pedidos de desculpa por dois governantes, confrontou-se na realidade não com uma nova forma de fazer política, como alguns disseram, mas com uma nova forma de fazer comunicação política.
Esta forma pode ser nova em Portugal, mas está há muito identificada nos países anglo-saxónicos- Até lhe chamam o "classical Washington construct". Pede-se desculpa por erros cometidos por alguém e promete-se apurar responsabilidades. É a forma passiva-evasiva de reconhecer um erro e ao mesmo tempo afastar qualquer responsabilidade pessoal.
Este construto da desculpa não-desculpa é muito útil quando não há realmente nada a fazer para compensar o erro ou evitar a sua persistência ou repetição.
Façam aqui a verificação:
(Imagem retirada do twitter de @carlotaburnay)
As redes sociais têm o condão de propagar uma coisa chamada "memes". Um meme é um conceito, um filme, uma hashtag ou uma imagem que se torna um ícone-base para as mais diversas mensagens e situações, reconhecidas imediatamente pelos internautas e rapidamente propagadas.
A imagem de Michelle Obama a segurar num cartaz com a mensagem "#Bring back our girls" correu mundo. O líder do PS decidiu juntar-se à causa. Mas aquilo que à primeira vista era uma boa iniciativa de Relações Públicas rapidamente se tornou um "meme" incontrolável.
Da imagem inicial às mais diversas versões, já existe um arquivo no Tumblr, com o nome #selfieSeguro que não pára de crescer. Ninguém está livre de um caso destes, mas a nota para todos os assessores de imagem é clara: não usar imagens com espaços em branco ao alcance da criatividade dos internautas.
Do original
A dezenas de réplicas
Iniciam-se hoje as comemorações do Centenário de Relações Públicas no Brasil.
Segundo a Wikipédia, o primeiro Departamento de Relações Públicas, com essa denominação, foi criado no Brasil em 30 de janeiro de 1914. Pertencia à "Light" (The Light and Power Co. Ltda.), companhia canadiana estabelecida no Brasil e concessionária da iluminação pública e do transporte colectivo da cidade de São Paulo. A direcção desse Departamento de Relações Públicas foi entregue a um engenheiro (sim, engenheiro) Eduardo Pinheiro Lobo. A Lei nº 7.197, de 14 junho de 1984, concedeu-lhe o título de pioneiro das Relações Públicas no Brasil, e estabeleceu o aniversário de seu nascimento, dia 2 de dezembro, como o Dia Nacional das Relações Públicas.
Em Portugal, reza a lenda que o LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) foi a primeira organização portuguesa a contratar um Public Relations, muito mais tarde, em 1957. Há três anos fiz um post sobre esse facto por ocasião da morte do seu protagonista, Avellar Soeiro, considerado o pioneiro português das Public Relations.
O atraso de Portugal em relação ao Brasil, que presumo ter explicação na sociedade fechada do regime, na ausência de influência de multinacionais e em particular das correntes americanas da "publicity", continuou até ao reconhecimento da profissão, o que em Portugal ainda não aconteceu.
No Brasil, a profissão é regulamentada desde 1967/68 e deu origem a um sistema designado CONFERP, formado pelo Conselho Federal e pelos Conselhos Regionais de Relações Públicas. Está definido que apenas podem exercer a profissão no Brasil os indivíduos formados num curso superior de Relações Públicas (ou equivalente no exterior, com o diploma devidamente reconhecido no Brasil) e que estejam registados no seu respectivo Conselho Regional.
Em Portugal, existe uma associação, a APCE - Associação Portuguesa de Comunicação de Empresa que lançou a primeira pedra nesse caminho para a acreditação da profissão em Portugal, ao aprovar o Código de Conduta do Gestor de Comunicação organizacional e Relações Públicas.
Sei que o Sistema Conferp e o Observatório de Comunicação Institucional vão desenvolver diversas iniciativas no âmbito deste centenário. Que também coincide com uma reformulação dos currículos dos cursos de RP, até agora pautados por uma grande promiscuidade entre jornalismo e comunicação empresarial.
Podemos ir seguindo através desta página no Facebook e no site do Observatório.
Uma empresa americana de listagem de empregos online, a CareerCast, fez a lista das dez profissões mais stressantes em 2013. A Forbes fez um artigo sobre essa lista. Embora reflicta a realidade dos Estados Unidos, o ranking parece-me bastante plausível em qualquer geografia.
A CareerCast considerou as 200 profissões da sua base de dados e analisou onze requisitos profissionais que provocam mais stress, incluindo viagens, potencial de evolução, competitividade, exigência física, condições ambientais e risco de vida própria ou para os outros.
O Executivo de Relações Públicas surge a meio da tabela, logo a seguir ao Coordenador de Eventos (função que muitos RP acumulam também). Os jornalistas - mais concretamente, os repórteres de jornais, estão menos sujeitos ao stress e estão num confortável 8º lugar. Os taxistas, que parece que vão explodir a qualquer momento, estão no fim da tabela.
Ou seja, antes de nós, só mesmo militares e bombeiros. Para quem ainda está a decidir que carreira escolher, caso esteja a pensar em Relações Públicas ou Jornalismo, recomenda-se que faça primeiro um stress-test.
Fica aqui a lista completa:
1. Miltares alistados
2. General militar
3. Bombeiro
4. Piloto aéreo
5. Coordenador de Eventos
6. Exceutivo de Relações Públicas
7. Executivo senior de Empresa
8. Repórter de jornal
9. Polícia
10. Taxista
*post dedicado ao meu colega Rui Calafate
Martin Sorrell, patrão do grupo WPP, falou ontem no PR Summit em Miami, sobre o estado da indústria de relações públicas. Os resultados na sua companhia não têm sido entusiasmantes e as expectativas de recuperação remetem demasiado para o médio e longo prazo.
A partir de uma linha de tweets, segui ontem à noite em tempo real as suas principais declarações:
Sorrell acredita que a "descolagem" das RP acontecerá quando for totalmente integrada no marketing mix. Quanto mais integradas as campanhas forem, maior será a voz das RP. Concordo absolutamente. Hoje a maioria dos orçamentos para RP de uma campanha são "aquilo que sobra" depois de todo o resto ter sido aplicado nas outras disciplinas do marketing e da comunicação. Normalmente sobra pouco.
Para o futuro, e como grande oportunidade para as RP, Sorrell vê a Responsabilidade Social Empresarial (CSR), actualmente em forte desinvestimento pelas empresas. Desde que se esteja no negócio no longo prazo, explica Sorrell. Como no longo prazo estamos todos finados, não fiquei entusiasmada.
Entretanto descobri um resumo da apresentação pode ser lido aqui.
Sendo a actividade [dos assessores], como digo, influenciadora do comportamento social, creio que deveria ser regulamentada por um código deontológico que, para além dos direitos e deveres dos associados de uma ou outra agremiação, deveria também apontar medidas de punição dos desvarios, contrariamente ao que (não) existe no de Lisboa e, de certa forma, nos restantes. A actividade devia ser regida por uma ‘Ordem’ (ou coisa do género), e não por associações que apenas tratam do corporativismo, de prémios e pouco mais. Esta ‘Ordem’ teria, em princípio, o mesmo tipo de figura legal que outras ordens – a dos médicos, dos engenheiros, etc. – têm, isto é, serem dotadas de uma espécie de direito objectivo (peço desde já desculpas pela designação, haja quem a corrija).Sobre o primeiro tema, tive o privilégio de integrar o grupo que lançou o Código de Conduta da APCE. Neste código, destinado a todos os que trabalham em gestão da comunicação e relações públicas, está prevista a fiscalização do seu cumprimento que "é exercida, antes de mais, pelos associados da APCE e por quantos estejam em consonância com os princípios nele enunciados, cabendo à Direcção da Associação a responsabilidade da instrução de processos por eventuais infracções e pelo respectivo sancionamento, até à exclusão."Para a "eficácia" desta exclusão, ou seja, para que ela resulte numa real sanção pelo prevaricador, será necessária a representatividade da Associação e o seu reconhecimento pelo mercado. É nesse sentido que, como presidente do Conselho Consultivo e de Ética da APCE, tenho a missão de propor à direcção, com o contributo de vários colegas, um modelo de autenticação e credenciação do exercício da profissão.E entramos na segunda questão colocada por cjt.Sendo ainda prematuro adiantar esse modelo, posso desde já partilhar, com os muitos profissionais que têm vindo a debater o tema, que a figura de "Ordem" será a menos indicada para a profissão. Contrariamente aos exemplos frequentemente apontados dos engenheiros, economistas ou os mais recentes designers, esta é uma prática profissional que reúne (e ainda bem) formações tão díspares como licenciados em comunicação, economistas, arquitectos, juristas, sociólogos ou antropólogos. O caminho será muito provavelmente outro, mas será certamente consentâneo com a realidade da profissão, com as melhores práticas internacionais e com o rigor que uma credenciação exige. É um passo muito importante, está a ser debatido e maturado. Mas vai avançar. O mercado - e a diferenciação de que tanto se fala - assim o exige.
Falecimento de um homem de bemCom 92 anos e uma vida rodeada de respeito e de honra, faleceu, há dias, Avellar Soeiro, o primeiro ‘public relations’ português, que conferiu à profissão os galões de dignidade e de prestígio de que a profissão necessitava. Nos anos de 60, estando ele no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, onde desempenhou nobilitantes tarefas, convidou-me e ao Daniel Filipe, a organizar um gabinete de Imprensa, que promovesse as Primeiras Jornadas Luso-Brasileiras de Engenharia Civil. O Daniel e eu estávamos em situação económica dificílima, acrescida, no meu caso, de me ter envolvido em acções políticas directas. Avellar Soeiro conhecia o caso. E contratou-nos. Devo dizer que o nosso trabalho, apoiado e estimulado por Avellar, constituiu um êxito muito grande. No decorrer dos anos via-o, ocasionalmente, nas Portas de Santo Antão, e trocávamos as palavras que a nossa amizade e a cordialidade que nos era própria exigiam e explicavam. Sentia, sempre e sempre, uma grande emoção ao vê-lo e ao conversá-lo. Monárquico, culto, elegantíssimo de trato, também eu pressentia nele a estima com que me dignificava. Sem nunca fazer referência às minhas convicções e, naturalmente, nem eu às dele, recordávamos a amizade nascida em circunstâncias tão estranhas quanto adversas. Recordo, com emoção e orgulho, o homem de bem, o português exemplarmente raro e o querido amigo que perdi.Está, definitivamente, por escrever, a história das Public Relations em Portugal.
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