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À hora a que escrevo este post (fim do dia 21 de dezembro, dia seguinte ao anúncio da venda/resolução/desgraça do Banif), verifiquei que prossegue alegremente uma campanha institucional do banco em pelo menos todos os canais de informação da televisão e na rádio TSF.
O slogan da campanha é a assinatura do banco: "A força de acreditar". Perante uma população incrédula com o presente de natal envenenado que recebeu, esta campanha soa, no mínimo, a estranho, e, no máximo, a provocação. Provocação pela própria mensagem e, em simultâneo, pela inevitável sensação legítima de qualquer contribuinte de "dinheiro deitado à rua".
Não se entende como não foi suspensa esta campanha. O argumento que "já está paga" (ou melhor, já foi contratualizada) não faz qualquer sentido em gestão de marketing. Uma regra básica na gestão de comunicação de crise é a absolutamente necessária reavaliação de todas as campanhas e mensagens de marketing que estavam programadas, revê-las e suspendê-las se forem contrárias aos objectivos que presidiram a essa campanha e essas mensagens.
Penso que estamos claramente numa situação em que a gestão da marca - que está intimamente ligada à gestão do banco - deve estar alerta e em plenas funções.
Será que estão de férias? Ou já fugiram todos?
PS: se houver espaço já contratado e impossível de cancelar, porque não dá-lo a uma IPSS? Aqui está uma boa ideia e tão adequada à quadra natalícia. (uma sugestão de @pitchauba no twitter)
ADENDA: Sobre este assunto, recebi informação da Nova Expressão, a agência de meios do Banif. A agência recebeu instruções do banco ontem, segunda-feira, ao início da manhã, para que todas as inserções fossem de imediarto canceladas. Fonte da NE esclarece que, por razões técnicas que se prendem com automatismos de programação, algumas ordens de cancelamento demoram mais tempo a efectivar-se em rádio e em televisão.
Já muito, e provavelmente quase tudo, foi dito sobre a nova marca NOS, resultante da fusão entre a Optimus e a ZON. Concordo com a generalidade das leituras que foram feitas, de forma mais ou menos espontânea, por leigos e profissionais. O arranque não foi feliz.
Uma marca é constituída por dois elementos, o nome e o logotipo. No caso, o nome NOS parece ser o mais problemático, por razões inerentes às dificuldades da língua portuguesa no que respeita à fonética e acentuação das palavras. Têm sido feitas muitas brincadeiras entre NOS e NÓS, algumas com piada. A prazo, este problema irá desaparecer. (Mais complicado parece ser o nome do putativo novo partido de extrema direita que se anuncia).
No que respeita ao logotipo, as associações a pratos do Continente, e até símbolos da concorrência, também irão passar com o tempo. De resto, numa análise formal, a nova marca respeita critérios fundamentais como a sua adequação ao sector de actividade (inócuo aqui), a simplicidade (diria mesmo básico), facilidade de identificação e memorização e versatilidade.
Há vários exemplos de marcas cujos lançamentos estão envoltos em polémica, por associação a ideias menos desejáveis, plágio aparente, inadequação a determinadas culturas, por exemplo. A médio prazo, os consumidores acabam por se habituar e incorporar a imagem. A marca vingará se cumprir a sua proposta de valor. Num período de crise, os consumidores dão mais valor ao produto que à marca. Melhores preços, bons pacotes, bom serviço, boa assistência, eis o que o infiel consumidor de comunicações procura.
Dito isto, a nova marca arranca com algumas fragilidades:
- É uma marca nova que tem de se impor face a marcas concorrentes muito fortes como Meo ou Vodafone
- O aparente descuido da agência criativa (e do cliente) na pesquisa e identificação dos problemas referidos enfraquece a imagem corporativa
- Resulta de uma fusão, o que gera sentimentos de incerteza quanto à evolução do processo empresarial
- Nasce da morte de duas marcas fortes, gerando sentimentos de nostalgia ou até mesmo de traição junto dos antigos clientes
- Arranca numa altura em que acontecem dois consagrados festivais de música em que a marca Optimus estava enraizada, gerando confusão e alguma irritação por parte dos consumidores destes festivais.
A NOS vai precisar de uma forte campanha de relações públicas que ajude a construir a personalidade da marca que ainda não existe (a notoriedade já está garantida, mas não chega) e de um marketing comercial agressivo. Les jeux sont faits, boa sorte.
Um míudo de dez anos viu aquilo que provavelmente toda uma equipa de marketing não viu. Às vezes, escapa-nos o óbvio tal é a importância que damos à mensagem, sem cuidar do suporte em que a divulgamos. Às vezes uma boa ideia morre na sua execução.
Este é o perfeito exemplo de que o meio é a mensagem*. Ou melhor, que o meio pode perverter a mensagem.
*Marshall McLuhan
Martin Sorrell, patrão do grupo WPP, falou ontem no PR Summit em Miami, sobre o estado da indústria de relações públicas. Os resultados na sua companhia não têm sido entusiasmantes e as expectativas de recuperação remetem demasiado para o médio e longo prazo.
A partir de uma linha de tweets, segui ontem à noite em tempo real as suas principais declarações:
Sorrell acredita que a "descolagem" das RP acontecerá quando for totalmente integrada no marketing mix. Quanto mais integradas as campanhas forem, maior será a voz das RP. Concordo absolutamente. Hoje a maioria dos orçamentos para RP de uma campanha são "aquilo que sobra" depois de todo o resto ter sido aplicado nas outras disciplinas do marketing e da comunicação. Normalmente sobra pouco.
Para o futuro, e como grande oportunidade para as RP, Sorrell vê a Responsabilidade Social Empresarial (CSR), actualmente em forte desinvestimento pelas empresas. Desde que se esteja no negócio no longo prazo, explica Sorrell. Como no longo prazo estamos todos finados, não fiquei entusiasmada.
Entretanto descobri um resumo da apresentação pode ser lido aqui.
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