Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Não, este post não é sobre a campanha para as últimas eleições europeias. Este post é sobre fenómenos sociais e sobre empresas/ profissionais que querem agarrar a onda desses mesmos fenómenos para obter maior exposição da sua marca e vender mais (ou aumentar notoriedade ou outro qualquer objetivo).
Há uma coisa que importa a reter: não se deve tentar capitalizar uma dada tendência se não a compreendermos. Isto parece-me óbvio e acho que é relativamente fácil de interiorizar. Dito isto, vamos à estória.
Há dias vi ser partilhada no Twitter a página de um curso de formação cujo objetivo era o de ensinar os seus participantes a gerir uma marca pessoal nas redes sociais (abro um parêntesis para mencionar que uma das minhas atividades profissionais é a gestão de um projeto empresarial na área da formação, pelo que vou intencionalmente abster-me de mencionar nomes de empresa, pessoas ou marcas). Até aqui tudo bem, todos nós sabemos a importância da internet e das suas ferramentas para o nosso marketing pessoal e para a gestão da nossa carreira, é por isso natural que surjam projetos com o objetivo de dar competências às pessoas neste domínio.
O que não está tudo bem é o que escrevo já de seguida. Além de ser muito curioso, tenho particular apreço quer pela formação quer pelo marketing, pelo que assim que me aparece um link destes à minha frente é click garantido. E lá fui eu ver a descrição do curso. Tudo ia razoavelmente bem – falava de conteúdos, de imagem, das várias ferramentas, etc - até que chego a esta parte: “Como fazer a sua melhor selfie”, com as dicas para tirar as melhores fotos com o smartphone. E aqui começou a entornar o caldo.
Uma selfie é uma fotografia tirada por uma pessoa a si própria, sozinha ou com mais pessoas, geralmente partilhada nas redes sociais, com o Instagram e o Facebook à cabeça, e que tem sido um fenómeno comportamental que cresceu exponencialmente. E cresceu porque geralmente as pessoas têm usado as selfies para se mostrarem num dado sítio, a viver uma dada experiência ou até só se mostrarem a si próprias (a selfie é também uma demonstração de algum narcisismo em alguns casos).Ou seja, a selfie não é mais do que a partilha de uma vivência de um dado momento com as pessoas que a seguem nas redes sociais que usa. E é aqui que o tal curso falha na compreensão do fenómeno. Uma selfie, na perspetiva de quem a tira e partilha é um momento, e os momentos não têm técnicas, enquadramentos, dicas, não precisam de se transformar na “melhor selfie” nem precisam de ser ensinados.
Ter uma boa coleção de selfies é importante para a marca pessoal? Talvez. Pode ser em alguns casos específicos. Jamais o será, contudo, se perder o seu essencial – a espontaneidade. E será uma onda como outra qualquer – provavelmente daqui a meia dúzia de meses já não será “cool” tirar selfies e o fenómeno será outro qualquer.
E aqui reside a questão, enquanto umas empresas tentam utilizar as redes sociais para comunicar e interagir de uma forma que não fazem no “mundo real”, outras tentam ensinar as pessoas a estar presentes nas redes sociais com benefícios na sua carreira profissional. E muitas falham. E falham porque não entendem que as pessoas é que ditam como querem interagir e quando querem interagir. E falham porque não entendem que a espontaneidade e a liberdade de expressão que as pessoas sentem nas redes sociais não se ensaia, não se ensina e não se compadece com artificialidades.
E nós, utilizadores das redes sociais, se não percebermos que ganhamos muito mais em sermos nós próprios, muito provavelmente prejudicaremos mais a nossa marca pessoal do que a beneficiaremos.
PS: Só mais uma coisa, se pretendem ensinar alguém a usar uma rede social como o Twitter, por exemplo (pretensão que não tenho), não tenham tweets protegidos ;-) .
*Director geral da Sparkle Business Ignition, Mestre em Marketing
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.