Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Boeing 737 Max 8/Getty Images
A propósito da enorme crise de reputação que a Boeing enfrenta na sequência do acidente da Ethiopian Airlines, e cujas consequências totais ainda são imprevisíveis, deixo aqui nota da actividade de lobbying da construtora norte-americana.
De acordo com o site Politico, que cita os números oficiais de divulgação obrigatória pela legislação do lobby, a Boeing é um dos maiores utilizadores de lobbying em Washington, tendo gasto o ano passado mais de 15 milhões de dólares em serviços externos.
São cerca de 20 firmas de lobbying que trabalham actualmente para a Boeing, incluindo: Baker & McKenzie; Ballard Partners; CGCN Group; Cornerstone Government Affairs; Etherton and Associates; Gephardt Group; Jerry Costello Group; K&L Gates; Lamont Consulting Services; Lugar Hellmann Group; Mehlman Castagnetti Rosen & Thomas; Monument Advocacy; Norm Dicks & Associates; Roberti Global; S-3 Group; Shank Public Policy; Simmons & Russell Group; Stapleton & Associates; e Washington Council Ernst & Young. Um verdadeiro exército.
Com a crise instalada, é de crer que os números aumentarão, quer em firmas quer em orçamento, não só em Washington mas também - e sobretudo, diria eu - em Bruxelas.
De acordo com o site Lobbyfacts.eu, em Bruxelas a Boeing tem 6 lobistas declarados e custos de lobbying em 2018 estimados entre 200 mil e 300 mil euros. Números que irão certamente disparar e provavelmente regressar no mínimo aos valores de 2014, quando os custos de lobbying ultrapassavam os 400 mil euros. Um caso a acompanhar.
O afã legislativo típico de final de legislatura, passe a redundãncia, encontra sempre mérito em grupos de interesse visados nessa legislação in extremis.
É o caso do decreto-lei que vai regulamentar a actividade de Lobbying em Portugal. O reconhecimento de uma actividade profissional que defende interesses legítimos junto dos centros de decisão é um sonho antigo de alguns, como Joaquim Martins Lampreia, justamente reconhecido como "O" Lóbista Português e que incansavelmente tem lutado pela causa. É uma ambição de muitos outros que o têm acompanhado, onde me incluo no modesto papel de seguidora, e vários outros colegas do sector da Comunicação e das Public Affairs.
O XIX Governo Constitucional vai, para todos os efeitos, ficar com os louros de ter, finalmente, arrancado com o processo. Se ficássemos à espera de uma iniciativa parlamentar, apesar de gentis manifestações, teríamos de arranjar um banquinho.
Passará então a haver um registo obrigatório e gratuito para quem pretenda exercer a actividade junto do governo e Administração Pública. Fica tudo registado, reuniões, troca de correspondência, clientes, etc.
É claro que foi imediatamente apontada a lacuna mais evidente desta iniciativa: os deputados estão fora deste registo. Isto é, aqueles que deputam de manhã e consultam à tarde continuam a fazer concorrência desleal a quem trabalha em transparência. Mas para isto, existe uma solução muito simples: implementar o regime de dedicação exclusiva dos deputados. Isso é que falta fazer, tendo em conta que na actual legislatura, 117 dos 230 deputados optaram pelo regime de acumulação.
Até lá, vamos continuando a ter os lóbis do costume, mas agora com lóbinhos mais organizados e ambiciosos.
Fonte: Associação Transparência e Integridade
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.