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Marinho, os jornalistas e os comunicadores

por Alda Telles, em 10.03.15

marinho 2.JPG

 

Este é um artigo extraordinário para os profissionais de comunicação. Um simples parágrafo está carregado de paradigmas do estado da comunicação.

marinho e os jornalistas.JPG

 

Acompanhem-me: 

- Marinho Pinto, recém-eleito deputado europeu, é contactado "sucessivamente" por quatro jornalistas, dos quais três, segundo ele, trabalhadores activos em orgãos de comunicação social portugueses

- O que querem os jornalistas? A primeira entrevista ao neófito deputado em Bruxelas? Não, querem "fazer" a comunicação do deputado em Lisboa.

- Razão? A "má imprensa" do personagem. Deduz-se que aqueles jornalistas iriam fazer "boa imprensa" pelas suas próprias penas ou conseguir "boa imprensa" de colegas seus jornalistas.

- Como reagiu Marinho? Recusando o trabalho de jornalistas para fazer a sua comunicação, alegando que os profissionais de comunicação (ele chama-lhes comunicadores) estão "ao serviço de interesses hostis aos valores éticos do jornalismo".

Podemos concluir que Marinho Pinto, ao não contratar jornalistas para "fazer" a sua comunicação, livrou os jornalistas de se tornarem comunicadores "ao serviço de interesses hostis aos valores éticos do jornalismo".

Isto em tudo se aparenta a um silogismo, mas de silogismos está o inferno cheio.

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publicado às 22:09

Mise en abyme

por Alda Telles, em 11.06.14

 

Foi hoje anunciado um dos maiores despedimentos colectivos num grupo de media em Portugal. A Controlinveste Conteúdos, empresa detentora dos títulos DN, JN, TSF e O JOGO, entre outros, anunciou hoje um processo de redução de efetivos no total de 160 postos de trabalho

Mais um despedimento colectivo entre centenas de outros que vamos lendo nas notícias, dizem. 

Não é bem assim. Cada notícia destas que um jornalista escreve, é uma "mise en abyme". É escrever sobre a sua própria morte, é fazer a crónica de uma morte lenta anunciada há muito.

 

 

 

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publicado às 23:47

Manuel Valls, um homem da comunicação

por Alda Telles, em 31.03.14

 

Valls em 2000 com o primeiro ministro Lionel Jospin

 

 

O novo chefe do governo francês, Manuel Valls, conhecido pela sua linha dura, reforçada pela circunstância de ter sido até agora o "ministro das polícias", é um homem da comunicação.

 

Entre 1997 e 2001 foi o assessor de imprensa de Lionel Jospin, primeiro ministro naquela época.

 

Arranca o mandato, à partida, com três vantagens:

 

- Conhece os media e os jornalistas

- Não beneficia da simpatia geral dos jornalistas, que o consideram brilhante mas arrogante

- Não gosta de jornalistas, mas respeita-os e sabe do seu poder.

 

Tem portanto todos os ingredientes para uma gestão eficaz da comunicação do seu governo e não se arrisca sequer a um "período de lua de mel" com a imprensa que tantas vezes inebria e depois desilude governantes mal preparados para a realidade mediática.

 

 

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publicado às 19:22

Sinais

por Alda Telles, em 05.01.11
O último relatório do Observatório da Comunicação (Obercom) intitulado “Desafios do jornalismo” parece denotar alguma esquizofrenia. Ou, sobretudo, uma enorme falta de âncoras e referências para a profissão. Como disse há não muito tempo, parece-me existir espaço para a criação de uma associação profissional, capaz de responder às novas realidades do jornalismo. Também publicado aqui.

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publicado às 23:53

A confiança não é um conceito anónimo

por Alda Telles, em 30.05.10
Não é perseguição, mas os jornalistas continuam a questionar o papel dos assessores de gabinetes. Desta vez, confesso, surgiu um tema que ainda não me tinha passado pela cabeça: o anonimato das fontes dos gabinetes, vulgo assessores de comunicação. O assunto foi lançado pelo Ferreira Fernandes no DN, mas foi através do António Granado que foi replicado no Twitter.Na essência, uma informação emitida pelo gabinete do primeiro ministro foi desmentida. A questão levantada por FFernandes e A Granado é o anonimato da fonte, que não permite o contraditório e, segundo F Fernandes "se a fonte não quiser explicar- -se, o jornalista, como houve mentira deliberada, está desobrigado do sigilo e pode contar a história toda."Granado, por sua vez, diz que "Como jornalista, nunca dei, nem nunca darei, anonimato a este tipo de gente. Se não querem que o nome apareça, há sempre uma solução: passem o telefone à pessoa que estão a assessorar.".Sobre a temática, surgem-me os seguintes comentários:- Não é certo que a fonte do gabinete seja um assessor de imprensa (digo eu)- A ser, o anonimato é inverosímil. Uma função profissional, exceptuando organizações secretas ou estruturas de defesa nacional, não é por natureza anónima.- A função de um assessor de comunicação é garantir a verdade, pelo menos aquilo que acredita ser a verdade. Sempre na perspectiva da boa fé e da lealdade para quem trabalha.A verificar-se uma contradição, só há uma saída para o assessor: demitir-se. Ou porque veiculou informação errada ou falsa deliberadamente, ou porque foi erradamente induzido a prestar falsas declarações pelo seu superior.Não há outra forma de trabalhar em comunicação. É uma função que só pode viver em confiança. Da parte de quem o emprega, mas também da parte de quem utiliza as suas declarações (no caso, os jpornalistas). A confiança não é, certamente, um conceito abstracto ou anónimo.

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publicado às 22:56

Má informação ou má comunicação?

por Alda Telles, em 20.04.10
No tempo em que os ministérios, os institutos, as câmaras, a presidência, tudo e mais um par de botas (menos os tribunais) têm sites, "gabinetes de comunicação", assessores de imprensa e imagem e todo um exército de gente paga pelo erário público para disponibilizar informação e responder a perguntas, obter "dados" sobre seja o que for, é, como há 20 anos, um martírio.
Este extracto de um post da jornalista Fernanda Câncio intitulado "Má informação" deu o mote para uma ideia há muito discutida em Portugal (e não só) pelas consultoras de comunicação e relações públicas.Os casos relatados por F. Câncio como "Assessores de imprensa que nunca têm tempo para atender o telefone ou que quando o atendem é para dizer "mande-me um mail"; que chegam a levar meses (tenho um caso recente) a responder a perguntas e mesmo assim só parcialmente ou nada;(...)" estão nos antípodas da postura das consultoras.A missão das consultoras de comunicação é facilitar acessos, informação, dados, estatísticas, posições, comentários. Fazem-no, em primeiro lugar, para servir os interesses ou as necessidades de comunicação dos seus clientes (que podem ser empresas privadas, mas também associações, organismos públicos, ONG, pessoas ou grupos de interesse) e que tenham relevância pública para os meios a que destinam as suas mensagens.Mas fazem-no também, muitas vezes, apenas para ajudar um jornalista numa matéria sobre a qual possuem informações e contactos. E, muitas vezes também, sem nenhum benefício concreto para o seu cliente.Aliás, os jornalistas tão bem sabem disso que quantas vezes, para obterem dados ou documentos oficiais sobre um tema público, ligam directamente para as organizações e empresas não-estatais ligadas a esse tema. Sabem que, se essa informação existir, e não estiver sob reserva de confidencialidade, as consultoras tudo farão para ajudar.Não se trata aqui de bons samaritanos. Apenas e tão só uma forma transparente e desassombrada de trabalhar informação. Como F. Câncio diz, "a maioria dos  assessores de gabinetes já foram jornalistas". Pois bem, nas consultoras também existem ex-jornalistas. A questão é que, para uma missão aparentemente igual, as posturas são diferentes. A diferença é que os consultores dependem da sua competência, do seu profissionalismo e da sua boa reputação para sobreviver. São pagos para trabalhar, gerir e disponibilizar informação, não para a sonegar ou reter. É outra atitude perante a informação. As consultoras são hoje reconhecidas como os players mais transparentes do sistema mediático (que os social media vieram ampliar, e onde as consultoras também já trabalham com profissionalismo).Dito isto, deixo aqui o repto: Para quando a profissionalização da comunicação pública? Como em qualquer organização, deve existir um responsável interno pela comunicação. Mas este deve ser apoiado por uma equipa profissional que sabe que a transparência e o acesso rápido a informação, as respostas oportunas às questões dos jornalistas são condição para um jornalismo também ele mais conhecedor e por isso de maior qualidade, evitando as "manipulações e distorções" que Fernanda Câncio também refere no post.Se, recentemente, o governo recrutou uma agência internacional para trabalhar informação pública junto dos media internacionais, porque não fazê-lo internamente, ao nível de ministérios, agências estatais e outros organismos públicos?Responder-me-ão que os assessores são cargos que exigem confiança? Claro. O trabalho das consultoras também se baseia em confiança e um consultor tem deveres éticos de lealdade, confidencialidade e verdade.Uma ideia sobre a qual gostava de saber a opinião dos partidos que defendem a transparência, a democracia e a sociedade civil.

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publicado às 15:53

Blogs e ética

por Alda Telles, em 14.04.10
As conversas são como as cerejas e cá volto eu ao tema. Mas as questões de ética são um dos meus campos de interesse e o facto praticamente estabelecido que os bloggers não estão sujeitos a códigos de ética ou deontológicos é mais um daqueles temas que acredito que vão evoluir.Reportando-me mais uma vez à realidade norte-americana, onde já vimos que os blogs são verdadeiros media e muitos bloggers se equiparam a jornalistas, deparei-me com o famoso colunista e blogger do New York Times, David Pogue e a sua "Note about Ethics and Disclosure". Não é o facto de não ser jornalista que impede Pogue de declarar os seus interesses e de seguir princípios no que respeita à cobertura que faz de temas e produtos, incluindo não aceitar ofertas das marcas e empresas e chega ao ponto de não deter acções de companhias sobre as quais escreve.Eu diria que este código é mais restritivo que o de muitos jornais. Para não falar do de colunistas.

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publicado às 15:11

São os blogs meios de comunicação social?

por Alda Telles, em 13.04.10
O tema é inesgotável, e parece que o rastilho lançado pelo Rodrigo pegou.Vou apenas referir, porque muito interessante, a análise do Nuno Gouveia à realidade norte-americana e de que recomendo a leitura. Chego à conclusão, a partir do histórico feito pelo Nuno que, de facto, faz sentido que nos Estados Unidos os bloggers se equiparem cada vez mais a jornalistas (quem quiser pode ver aqui o resumo do estudo) Basta ver a quantidade de blogs que se transformaram em meios de comunicação social e que, no jargão actual, se denominam de social media.
Claro que em Portugal estamos a milhas dessa realidade. Mas acredito que cá chegará. Como em tudo o resto, o nosso atraso tem a ver com a falta de recursos, o pequeno mercado e a tradicional cultura de minifúndio, onde cada blog tem a sua quintinha. Por isso demorará a transformação dos blogs em verdadeiros social media. Não deixam, contudo, sobretudo na política (mas não só) de serem media cada vez mais influentes.
Depois, no blog do 31 da sarrafada, o Fernando Fonseca, que se assume como "blogger sem agenda" e refuta o epíteto de jornalista,  dá o mote a comentários a esse post, muito interessantes, da Jonas Nuts, que equipara os blogs a orgãos de comunicação social, mas distingue-os claramente dos "orgãos tradicionais".
Por fim, o Carlos José Teixeira, no seu blog semiose.net  procura definir a linha que separa bloggers de jornalistas: obrigações legais, éticas e deontológicas dos segundos que os primeiros, de facto, não têm.
Numa desesperada tentativa de síntese, arrisco-me a esta: num futuro mais ou menos próximo, todos os meios de comunicação social terão uma configuração próxima dos blogs. Uns serão de grande dimensão e terão profissionais (que não sei como se chamarão) e outros serão pequenos blogs pessoais, ou de pequenos grupos, ou corporativos, e serão amadores (como se pretende equiparar agora os bloggers). Antevejo ainda a extinção da ERC...

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publicado às 19:51

Ainda os jornalistas e os bloggers

por Alda Telles, em 12.04.10
Como o post anterior gerou reacções homónimas, do Rodrigo Saraiva e do Rodrigo Moita de Deus, junto apenas mais uma reflexão à de ontem.Não querendo fazer "rodriguinhos" ;), acho que neste momento todos temos razão.Blogging não é, assumidamente, jornalismo, nem os jornalistas são comunicação social.Apenas me parece que a questão não pode ser tão simplificada como o querem crer os dois ilustres colegas. A questão levanta-se sempre que surgem as questões formais, como a de deverem os bloggers ser credenciados ou não em determinados eventos ou se devem ter um tratamento diferenciado dos jornalistas.Que os blogs são media, vulgo social media, sem dúvida. Mas alguns pretendem apenas falar para o umbigo ou para um número restrito de fanáticos, numa lógica de groupthinking, tomando o conceito emprestado de Jorge Nascimento Rodrigues. Outros têm vastas audiências e variados públicos, e podem ter um papel tão ou mais influente que os jornalistas dos "outlets tradicionais", mesmo na produção de informação nova (o recente lançamento do Activo Bank foi exemplo disso).A questão que se levantou no congresso do PSD é paradigmática de como é difícil navegar nestas linhas tão finas. Pergunto-me, no caso concreto, se não teria feito mais sentido Pedro Passos Coelho ter promovido uma "media conference", em vez de um "encontro com bloggers" e "nenhuma conferência de imprensa" sem traçar distinções que podem roçar o ridículo (e arriscado, para quem está a iniciar o seu estado de graça).

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publicado às 14:17

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