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Fotografia de Hugo Amaral, Observador
Esta semana, o Observador publica duas narrativas sobre as campanhas para as eleições europeias: Gonçalo Bordalo Pinheiro revela os bastidores da campanha de Francisco Assis e Miguel Pinheiro acompanhou a campanha de Paulo Rangel.
Chamo-lhes narrativas porque não são artigos, não são reportagens, não são histórias. São uma nova forma de relato jornalístico, em que a informação se mescla com interpretação (diria até que alguma imaginação), uma postura mais subjetiva e quase que íntima perante os políticos e as máquinas partidárias e, sobretudo, muitos detalhes "picantes" e eventualmente incómodos para os retratados. É como se estivéssemos a seguir o jornalista através da sua câmara oculta, partilhando segredos e as petites histoires de uma campanha. Um deleite para o leitor voyeur que há em todos nós.
Podemos dizer que, com estas duas peças, o Observador trouxe um novo jornalismo aos media portugueses? Acho que o podemos dizer. Não o digo com maiúsculas, porque o conceito de "Novo Jornalismo" (New Journalism) aconselha alguma prudência no seu uso para descrever estes trabalhos. Não estamos perante peças literárias, nem no estilo nem na forma narrativa. Mas temos, certamente, uma nova forma de contar a vida política, de forma assaz impiedosa na sua faceta escondida, no seu "dark side" que alguns conhecem mas nela não se reconhecem, que outros não conhecem e agradecem.
Quem não deve ter agradecido foram os objectos da narrativa...
Rápida primeira leitura sobre o novo jornal digital "Observador":
Pontos positivos
- Bom layout, bem adaptado a tablets e smartphones
- Excelente estratégia de comunicação "one-to-one" com os leitores registados. Os emails recebidos de manhã (com os temas que vão marcar o dia) e ao fim do dia são uma ideia brilhante que cria uma relação de intimidade com o jornal
- Rubrica "O Explicador"
- Posicionamento político e ideológico inequívoco
Pontos negativos
- A rubrica "O Explicador" tem recebido diversas críticas quanto à sua falta de rigor. Talvez se explique por uma redacção demasiado jovem e inexperiente
- Os colunistas de opinião, monocromáticos e monótonos, não fazem "comprar" o jornal
Uma breve nota sobre a reportagem sobre o casal "neo-nacional-socialista" que gerou polémica nas redes sociais, incluindo fortes reacções na página de facebook do jornal (onde alguns utilizadores se queixaram de comentários negativos apagados). Essa reportagem que teve, na minha opinião, um objectivo de reablitação da imagem do neonazi Mário Machado (tanto mais que na primeira edição já tinha sido objecto de outro artigo, em que se demarca da organização de "criminosos" que anteriormente dirigiu). Apesar desta interpretação ter sido recusada, com pouca convicção, pelo "publisher" José Manuel Fernandes ("Contar uma história humana que envolve Mário Machado não é absolver ou condenar Mário Machado: é ajudar a perceber que em política, na vida democrática, são as ideias que são realmente perigosas, não as pessoas", nas suas palavras), acredito que as reacções foram muito superiores ao que os editores esperavam.
Houve quem acusasse o jornal de lançar uma reportagem polémica com um objectivo de marketing, para gerar muitas visitas e rápida notoriedade. Houve quem acusasse o jornal de defesa dos ideais neonazis de Mário Machado. Não concordo com nenhuma destas leituras. Na minha opinião, surgiu uma oportunidade editorial (não esqueçamos que MM já iniciou há algum tempo uma campanha de comunicação a preparar o seu regresso, com entrevistas no princípio do mês à Sábado, ao Correio da Manhã e ao Jornal de Notícias, pelo menos).a que se juntou uma motivação ideológica liberal (não podemos assumir como neonazi) do jornal.
Penso que o Observador não esperava atingir, em dois dias, aquilo que uma marca mais ambiciona: conseguir o posicionamento na cabeça dos consumidores alinhado com o posicionamento desejado, ou seja, um jornal de direita com uma agenda política de médio prazo.
Esta frase de Pedro J Ramirez (ex-director do "El Mundo" e conhecido no meio como Pedro Jota) é mortífera e certeira. Pedro J falava a semana passada em Lisboa, numa conferência sobre o "Poder dos Media" promovida pela consultora GCI e pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. (O jornalista reproduziu no El Mundo de ontem a base da sua conferência em Lisboa e pode ser lida aqui.)
Mortífera, porque marca uma tendência que todos os consumidores de informação sentem. A concentração económica nos media, a par de uma profunda crise de recursos, reduz substancialmente esse tal poder de investigar, denunciar e proteger. É nesse sentido que para Pedro J a função watchdog do jornalismo está narcotizada, para não dizer moribunda.
Pedro J referiu também que o futuro dos media, a sua sobrevivência, depende das edições digitais. Vaticinando o fim da imprensa impressa daqui a 15 anos na Península Ibérica, o jornalista diz que "o jornalismo precisa de amigos" e que "esses amigos são os assinantes digitais".
A frase de Pedro J é também certeira porque, na mesma semana, são publicados os dados da APCT relativos ao primeiro bimestre de 2014. A tendência de perda de leitores, em praticamente todos os segmentos, é gritante. O número médio de exemplares vendidos em papel, por edição, na imprensa diária generalista, diminuiu 10 por cento face ao primeiro bimestre de 2013. Num ano, os diários perderam cerca de 20 mil leitores por dia. Os semanários perderam mais de 36 mil.
Parece mais ou menos evidente que as empresas proprietárias dos títulos têm de ter capacidade para assumir perdas crescentes, enquanto não se encontrar um modelo sustentável de negócio digital. Isto significa uma de três coisas: mais concentração, mais redução de custos ou agenda política.
O oásis das assinaturas digitais
Apesar da boa evolução registada na circulação digital paga, os números são absolutamente residuais: o líder no digital pago, o Expresso (semanário) tem nove mil assinantes, o Público cerca de 6500 e a Visão pouco mais de 3500... Quando pensamos que Pedro J foi afastado pelos maus resultados do El Mundo que tem, segundo ele, 120 mil subscrições pagas.
Entretanto, surgem este mês duas novas plataformas informativas digitais. Amanhã arranca o Expresso Diário online e logo a seguir surgirá o Observador. São dois modelos de negócio totalmente distintos. O Expresso será pago e o Observador será gratuito. Vamos ver como se comportam os respectivos "perros guardianes".
Nota: sobre a crise nos media, ler este artigo de J-M Nobre Correia no último DN.
Muita tinta irá correr e muito caractere irá bitaitar sobre o anunciado novo jornal exclusivamente digital. De nome "Observador", é claramente um projecto político ancorado num formato editorial.
Digo isto porque as notícias lidas até agora sobre o tema, no dia da revelação dos seus investidores e equipa directiva, tudo gente conhecida e ligada ao PSD, não incluem uma linha sobre o modelo de negócio. Será totalmente gratuito? Terá conteúdos exclusivos para assinantes? Terá um formato optimizado para os novos leitores móveis?
Também não resulta claro o público-alvo do jornal ou a sua linha editorial. Sabemos, pela tímida página www.observador.pt, que, apesar do seu director ser o até agora editor de política do Sol, o jornal procura jornalistas experientes nas áreas de "ciências, tecnologias, económicas e humanidades". Bastante vasto.
Finalmente, é estranho um jornal digital não estar já presente nas redes sociais, para começar a criar uma comunidade que será potencialmente sua leitora. Para irmos acompanhando as novidades temos de inscrever-nos numa mailing list...
É pois grande a expectativa quanto ao conceito jornalístico, embora a sua oportunidade política seja evidente. Aguardemos.
Acaba de ser publicado, segundo os autores, o mais completo e profundo trabalho de sempre sobre os jornalistas portugueses. Objectivo: «aprofundar o conhecimento relativo a um grupo socioprofissional em constante recomposição e de importância decisiva na formação da opinião».
Os dados são imensos, mas numa síntese, sabemos que existem 7402 jornalistas titulares de carteira profissional (um número praticamente estagnado desde 2004), que neste momento há uma ligeira predominância masculina (41% de mulheres e 59% de homens) mas que esta relação vai rapidamente mudar (nos últimos 5 anos entraram na profissão 508 homens e 706 mulheres e as mulheres são já maioritárias nas faixas etárias dos 20 aos 34 anos).Não é de estranhar que, tal como noutras profissões, apesar do equilíbrio de género, os homens continuem a dominar os cargos de chefia (80%).Outros dados interessantes: uma classe em rejuvenescimento (70% dos jornalistas têm entre 25 e 44 anos de idade), um nível de instrução relativamente avançado (60% dos jornalistas possuem uma licenciatura ou um bacharelato) e um peso já significativo de freelancers (15%).Vale pena consultar o site do estudo onde está informação mais detalhada e ler as entrevistas em profundidade a jornalistas de referência da nossa praça.Última nota, e a mais preocupante: as indicações quanto ao "estado de alma" da profissão que resultaram das entrevistas ao segmento "Jovens Jornalistas":Concordo com tudo o que escreveu, e duvido que tenha muito a acrescentar. Existem concerteza conflitos eticos complicados, mas parece-me que nao sao completamente intransponiveis. Por exemplo, nos bancos de investimento na ultima decada tornou-se pratica algumas divisoes venderem produtos a clientes, outras servirem como intermediarios, e outras ainda fazerem investimentos em nome da empresa.Por exemplo, o mesmo banco por vezes esta a aconselhar duas empresas num processo de fusao, enquanto que outra divisao do banco serve como "broker" na compra de accoes dessas empresas por parte de clientes com carteira no banco, e uma outra parte ainda gere a propria carteira deinvestimentos do banco que pode incluir as empresas em causa. As diferentes divisoes estao separadas, e existem uma serie de controlos internos para impedir que informacao privilegiada passe de uns paraoutros, enquanto que ao mesmo tempo podem usar alguma da expertise conjunta no mercado de financas e dividir custos fixos. Isto leva ocasionalmente a problemas serios e acusacoes de fraude que se provadasconduzema punicoes severas, mas e' um sistema que, pior ou melhor, tem funcionado e trazido muitos lucros ao sistema financeiro.Para dar um exemplo aplicado aos jornais, imagine que a companhia que detem o jornal tinha uma divisao, num edificio separado da redaccao, mas com acesso ao arquivo do jornal, 'as suas fontes e contactos, 'a rede de distribuicao, e com pessoas com alguns anos de experiencia no jornal.Imagine entao uma grande empresa que quer preparar a sua assembleia-geral e em que o conselho de administracao quer comunicar a sua mensagem aos accionistas antes da reuniao. Posso ver o jornal avender os servicos de gerir essa comunicacao. Por outro lado, imagine uma empresa que quer distribuir um folheto gratis ou uma comunicacao que alcance muitos consumidores. Uma forma eficaz de o fazer e' mudar os canais de distribuicao dos jornais: alias assim acontece com os suplementos de publicidade do jornal. Mas, poprque nao a tal seccao do jornal ajudar a empresa a compor esse folheto, desde ajuda na composicao dos textos, assim como num arranjo grafico apelativo.
Gordon Brown está a viver um dos maiores pesadelos que um político em vésperas de eleições pode viver. Foi difundida uma conversa privada com o seu staff (creio que pela Sky News) e cuja novela podemos ver aqui.
É provável que este episódio não tenha uma influência decisiva nas votações. Nesta altura, quem não gosta de Brown tem mais motivos para alimentar ódios, quem já pretendia votar Labour não levará o desabafo a peito. Pelo menos, uma sondagem ontem do Sun (que o jornal, significtivamente, não publicou) revelou que a maioria dos ingleses não se sentiu especialmente incomodada com os comentários.Em termos de comunicação, o "Bigotgate" suscita duas questões que me interessam. A primeira, a divulgação de uma conversa completa e inequivocamente privada entre Brown e o seu staff, dentro do seu carro, com a porta fechada. O facto de o microfone ter ficado ligado não justifica, na minha opinião, que a estação de televisão tenha utilizado o que designo de verdadeiras "escutas ilegais".Há quem dirá que são de "interesse público", porque "revelam o verdadeiro carácter" e a hipocrisia de Brown. Hipócritas são aqueles que fingem acreditar que, como muito bem disse Vasco Campilho no twiiter, "não há ninguém que, nalgum momento, não tenha acenado a alguém enquanto entre-dentes lhe chamava de parvo". Isto não define o carácter de ninguém, muito menos um político desgastado, sob enorme stress, numa disputa eleitoral renhida.O segundo aspecto, e o que mais me interessa, é a "gestão da crise mediática" dos conselheiros de Gordon Brown. O pedido de desculpas público, a explicação dada numa entrevista à BBC, creio que se impunha. O caso foi demasiado exposto.A ida de Brown a casa da Sra. Duffy, para lhe dar explicações pessoalmente, e ainda se desculpar com o seu satff, foram, a meu ver, patéticas e absolutamente desnecessárias. Segundo as sondagens, os mesmos que acharam um escândalo o que ele disse da "bigotuda" senhora, acharam que Brown não estava a ser sincero (e acredito que não) e os que não lhe deram importância talvez se tenham sentido um pouco incomodados.O desvario mediático, levado aos extremos no Reino Unido (parece que a Sra. Duffy já tem um agente de relações públicas) leva ao desnorte da comunicação de crise. Estamos a criar políticos patetas e medrosos e uma opinião pública intoxicada, quando os desafios dos países e das populações nunca foram tão terríveis.Uma bela campanha dos 100 anos da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), e a justa homenagem à Vírgula, esse sinal hoje tão maltratado. Sinal dos tempos.
Vírgula pode ser uma pausa... ou não.Não, espere.Não espere..Ela pode sumir com seu dinheiro.23,4.2,34.Pode criar heróis..Isso só, ele resolve.Isso só ele resolve.Ela pode ser a solução.Vamos perder, nada foi resolvido.Vamos perder nada, foi resolvido.A vírgula muda uma opinião.Não queremos saber.Não, queremos saber.A vírgula pode condenar ou salvar.Não tenha clemência!Não, tenha clemência!Uma vírgula muda tudo.ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.No tempo em que os ministérios, os institutos, as câmaras, a presidência, tudo e mais um par de botas (menos os tribunais) têm sites, "gabinetes de comunicação", assessores de imprensa e imagem e todo um exército de gente paga pelo erário público para disponibilizar informação e responder a perguntas, obter "dados" sobre seja o que for, é, como há 20 anos, um martírio.Este extracto de um post da jornalista Fernanda Câncio intitulado "Má informação" deu o mote para uma ideia há muito discutida em Portugal (e não só) pelas consultoras de comunicação e relações públicas.Os casos relatados por F. Câncio como "Assessores de imprensa que nunca têm tempo para atender o telefone ou que quando o atendem é para dizer "mande-me um mail"; que chegam a levar meses (tenho um caso recente) a responder a perguntas e mesmo assim só parcialmente ou nada;(...)" estão nos antípodas da postura das consultoras.A missão das consultoras de comunicação é facilitar acessos, informação, dados, estatísticas, posições, comentários. Fazem-no, em primeiro lugar, para servir os interesses ou as necessidades de comunicação dos seus clientes (que podem ser empresas privadas, mas também associações, organismos públicos, ONG, pessoas ou grupos de interesse) e que tenham relevância pública para os meios a que destinam as suas mensagens.Mas fazem-no também, muitas vezes, apenas para ajudar um jornalista numa matéria sobre a qual possuem informações e contactos. E, muitas vezes também, sem nenhum benefício concreto para o seu cliente.Aliás, os jornalistas tão bem sabem disso que quantas vezes, para obterem dados ou documentos oficiais sobre um tema público, ligam directamente para as organizações e empresas não-estatais ligadas a esse tema. Sabem que, se essa informação existir, e não estiver sob reserva de confidencialidade, as consultoras tudo farão para ajudar.Não se trata aqui de bons samaritanos. Apenas e tão só uma forma transparente e desassombrada de trabalhar informação. Como F. Câncio diz, "a maioria dos assessores de gabinetes já foram jornalistas". Pois bem, nas consultoras também existem ex-jornalistas. A questão é que, para uma missão aparentemente igual, as posturas são diferentes. A diferença é que os consultores dependem da sua competência, do seu profissionalismo e da sua boa reputação para sobreviver. São pagos para trabalhar, gerir e disponibilizar informação, não para a sonegar ou reter. É outra atitude perante a informação. As consultoras são hoje reconhecidas como os players mais transparentes do sistema mediático (que os social media vieram ampliar, e onde as consultoras também já trabalham com profissionalismo).Dito isto, deixo aqui o repto: Para quando a profissionalização da comunicação pública? Como em qualquer organização, deve existir um responsável interno pela comunicação. Mas este deve ser apoiado por uma equipa profissional que sabe que a transparência e o acesso rápido a informação, as respostas oportunas às questões dos jornalistas são condição para um jornalismo também ele mais conhecedor e por isso de maior qualidade, evitando as "manipulações e distorções" que Fernanda Câncio também refere no post.Se, recentemente, o governo recrutou uma agência internacional para trabalhar informação pública junto dos media internacionais, porque não fazê-lo internamente, ao nível de ministérios, agências estatais e outros organismos públicos?Responder-me-ão que os assessores são cargos que exigem confiança? Claro. O trabalho das consultoras também se baseia em confiança e um consultor tem deveres éticos de lealdade, confidencialidade e verdade.Uma ideia sobre a qual gostava de saber a opinião dos partidos que defendem a transparência, a democracia e a sociedade civil.
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