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Vou fazer uma coisa arriscadíssima: vou comentar o post da Estrela Serrano sobre os Gato Fedorento. A Estrela Serrano é uma investigadora e uma opinion maker que respeito, que sigo religiosamente e cujas análises considero quase sempre brilhantes e sempre interessantes.
Este post a que me refiro é interessante. Procura enquadrar, dentro de uma matriz séria de análise, aquilo que muitos tiveram dificuldade em classificar, mas que se incluem no espírito do "ao que o jornalismo chegou"/ "já não se distingue o jornalismo do entretenimento".
Estrela Serrano enquadra o tema no âmbito do código deontológico dos jornalistas mas, sobretudo, dentro das expectativas de "confiança, credibilidade e autoridade" que a profissão de jornalista gera.
Confesso que não consigo acompanhar esta análise. porque não considero o jornalismo uma profissão única nestes atributos. Esperamos da maioria dos profissionais confiança, credibilidade e autoridade. É neste ponto que a análise me incomoda, porque em nenhum momento do sketch estava à espera dessa demonstração por parte do jornalista que vi ali como um figurante "emprestado".
Não sendo estudiosa como a Estrela Serrano sobre o tema, permito-me pegar nas suas palavras: "Se um político entrevista outro político ou outra pessoa qualquer não passa a ser jornalista pelo facto de fazer perguntas. Mesmo que o palco dessa entrevista seja a televisão ou outro meio. Do mesmo modo, nem todos os que escrevem num jornal são jornalistas."
Diz depois Estrela Serrano: "Quando Ricardo Araújo Pereira (RAP) entrevistou os políticos na campanha eleitoral de 2009, não passou por isso a ser jornalista. Nessas entrevistas, o telespectador sabia que se tratava de um espaço de humor e ninguém ali alterou o seu estatuto: RAP continuou a ser o humorista que é e os políticos que convidou continuaram a ser o que são: políticos. A expectativa do telespectador era a de que RAP fizesse humor com os políticos que entrevistava e ver como estes reagiriam e resistiriam. Ninguém ali foi ao engano."
[Reparo agora que RAP também é um péssimo nome para um humorista, o que leva a que invariavelmente seja referido pela sigla].
A minha pergunta é: e no sketch dos Gato Fedorento, alguém foi ao engano? Alguém estava à espera que RGC fizesse uma entrevista "séria" e real aos Gato Fedorento? Se o objectivo era simular uma "entrevista política", faz sentido a "brincadeira" (não interessa aqui se de bom ou mau gosto) ter um jornalista, do canal, a representar o seu papel.
Não creio que haja aqui qualquer confusão de papéis. E se houve, foi para chegar à conclusão que nem para a novela "Sol de Inverno" RGC serviria como actor.
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