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Um interessantíssimo artigo académico de Vasco Ribeiro, professor e investigador na área da comunicação, revela-nos (mais) uma faceta de Salazar que abana os alicerces de uma imagem de humildade, sobriedade e, sobretudo, de proverbial "forretice".
De acordo com as pesquisas de Vasco Ribeiro, Salazar gastou "milhares de contos" com agências de relações públicas americanas (sempre referidas, à época, public relations, sem tradução). Esta actividade, desenvolvida por cinco agências diferentes para promover o país e sobretudo para branquear a imagem do ditador, durou mais de uma década, à razão de 50 mil dólares (8 mil contos!) por ano só em avenças. A valores actualizados, qualquer coisa próxima dos 420 mil euros anuais, a que se somavam as viagens e alojamento pagas a jornalistas e opinion makers.
Para além desta surpreendente aposta "despesista" em country branding , uma das notas mais importantes do estudo é a utilização estratégica do turismo como alavanca da promoção da imagem do país. Impressionante é também a modernidade e, diríamos, actualidade das acções de relações públicas desenvolvidas, sobretudo pela agência Peabody:
"No essencial, a estratégia desta empresa para colocar Portugal e o seu regime sob uma luz favorável da opinião pública norte -americana passou por: 1) criar laços de permanente informação junto de um vasto número de agências de turismo; 2) incrementar uma proactiva assessoria de imprensa; 3) desencadear o lançamento de dezenas de livros e guias de viagens sobre Portugal; 4) facilitar e apoiar a produção de filmes com narrativas positivas de Portugal; 5) organizar exposições, palestras e aulas; 6) convidar centenas de jornalistas, escritores, professores, investidores e outras personalidades a visitar o país; 7) apoiar tudo que pudesse originar boas mensagens sobre Portugal; e 8) efetuar estudos e inquéritos junto dos públicos -alvo."
O artigo de Vasco Ribeiro foi publicado em novembro na revista "Media e Jornalismo" da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, com edição de Estrela Serrano e Ana Margarida Barreto, e pode (deve) ser lido na íntegra aqui.
A menos de duas semanas do arranque do Mundial de Futebol, o Brasil, país anfitrião, vive um pesadelo de imagem-país.
As manifestações anti-Copa e os confrontos multiplicam-se, transformando o evento desportivo num alvo directo ao governo. Em torno de vários movimentos, incluindo índios e sem-abrigo, há mais de um ano que se espalham mensagens que repudiam o investimento em estádios e na organização de um dos mais complexos eventos mundiais em detrimento de investimento público em saúde, habitação e educação.
Aos protestos locais, que não parecem abrandar com a chegada do campeonato, somam-se artigos na imprensa mundial dando conta de aspectos negativos como os atrasos nas infraestruturas desportivas, dos preços proibitivos da hotelaria, da insegurança, da inconformidade dos aeroportos em relação ao "padrão-FIFA", e por aí fora. Em suma, um pesadelo para o governo e para a imagem-país, isto é, a percepção externa sobre as condições gerais do país.
Quando os locais, paises ou cidades, se candidatam a grandes eventos internacionais, o principal objectivo é mostrar de forma positiva esse local ao mundo, transmitir uma imagem de capacidade de organização, capacidade de bem receber e também vender o destino para turismo, para negócios, para talentos e para investimento estrangeiro. Esta Copa do Mundo 2014 não está, definitivamente, a cumprir esses objectivos.
Podemos dizer que, no final, será apenas futebol e a emoção partilhada por milhares de milhões através das televisões. Mas ficará a imagem de que o Brasil já não é o país da festa do futebol, mesmo que a selecção brasileira parta como favorita. Uma oportunidade perdida e dificilmente recuperável.
O presidente da Venezuela anunciou ontem a criação de um "Ministério para a Comunicação Internacional, dedicado exclusivamente à defesa mundial da Venezuela".
Nicolas Maduro tem-se focado, nos últimos tempos, naquilo que diz ser uma "guerra mediática de desinformação" contra a Venezuela. Durante a vaga de protestos em fevereiro passado, e quando uma manifestação terminou em violência no centro de Caracas, diversas montagens contra Maduro e o governo foram disseminadas nas redes sociais, e em cadeias de televisão internacionais como a CNN.
Maduro entende que existe "um plano internacional contra a Venezuela" que se desenvolve por via mediática, e onde se incluem os meios digitais, onde imagens, falsas ou verdadeiras, percorrem o mundo em questão de segundos, sem a maioria das pessoas verificarem a sua origem antes de as partilharem.
O caso de Maduro, por muita paranóia que se lhe queira eventualmente atribuir, contém um facto real no cenário político actual. A guerra da comunicação política desenvolve-se hoje na rede mundial e os regimes enfrentam desafios cada vez mais complicados na gestão da sua reputação internacional.
Os foros tradicionais como a ONU, a subcomissão de Direitos Humanos, a Organização de Estados Americanos ou a União de Nações da América do Sul, onde Maduro diz que a Venezuela goza de "muito prestígio", estão a perder credibilidade e influência em termos do reconhecimento internacional dos regimes.
A guerra da comunicação é, cada vez mais, uma guerra de "inteligência da comunicação". Os exércitos recrutam-se agora nas redes sociais.
[Imagem retirada do DN online]
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