Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Concordo com tudo o que escreveu, e duvido que tenha muito a acrescentar. Existem concerteza conflitos eticos complicados, mas parece-me que nao sao completamente intransponiveis. Por exemplo, nos bancos de investimento na ultima decada tornou-se pratica algumas divisoes venderem produtos a clientes, outras servirem como intermediarios, e outras ainda fazerem investimentos em nome da empresa.Por exemplo, o mesmo banco por vezes esta a aconselhar duas empresas num processo de fusao, enquanto que outra divisao do banco serve como "broker" na compra de accoes dessas empresas por parte de clientes com carteira no banco, e uma outra parte ainda gere a propria carteira deinvestimentos do banco que pode incluir as empresas em causa. As diferentes divisoes estao separadas, e existem uma serie de controlos internos para impedir que informacao privilegiada passe de uns paraoutros, enquanto que ao mesmo tempo podem usar alguma da expertise conjunta no mercado de financas e dividir custos fixos. Isto leva ocasionalmente a problemas serios e acusacoes de fraude que se provadasconduzema punicoes severas, mas e' um sistema que, pior ou melhor, tem funcionado e trazido muitos lucros ao sistema financeiro.Para dar um exemplo aplicado aos jornais, imagine que a companhia que detem o jornal tinha uma divisao, num edificio separado da redaccao, mas com acesso ao arquivo do jornal, 'as suas fontes e contactos, 'a rede de distribuicao, e com pessoas com alguns anos de experiencia no jornal.Imagine entao uma grande empresa que quer preparar a sua assembleia-geral e em que o conselho de administracao quer comunicar a sua mensagem aos accionistas antes da reuniao. Posso ver o jornal avender os servicos de gerir essa comunicacao. Por outro lado, imagine uma empresa que quer distribuir um folheto gratis ou uma comunicacao que alcance muitos consumidores. Uma forma eficaz de o fazer e' mudar os canais de distribuicao dos jornais: alias assim acontece com os suplementos de publicidade do jornal. Mas, poprque nao a tal seccao do jornal ajudar a empresa a compor esse folheto, desde ajuda na composicao dos textos, assim como num arranjo grafico apelativo.
No tempo em que os ministérios, os institutos, as câmaras, a presidência, tudo e mais um par de botas (menos os tribunais) têm sites, "gabinetes de comunicação", assessores de imprensa e imagem e todo um exército de gente paga pelo erário público para disponibilizar informação e responder a perguntas, obter "dados" sobre seja o que for, é, como há 20 anos, um martírio.Este extracto de um post da jornalista Fernanda Câncio intitulado "Má informação" deu o mote para uma ideia há muito discutida em Portugal (e não só) pelas consultoras de comunicação e relações públicas.Os casos relatados por F. Câncio como "Assessores de imprensa que nunca têm tempo para atender o telefone ou que quando o atendem é para dizer "mande-me um mail"; que chegam a levar meses (tenho um caso recente) a responder a perguntas e mesmo assim só parcialmente ou nada;(...)" estão nos antípodas da postura das consultoras.A missão das consultoras de comunicação é facilitar acessos, informação, dados, estatísticas, posições, comentários. Fazem-no, em primeiro lugar, para servir os interesses ou as necessidades de comunicação dos seus clientes (que podem ser empresas privadas, mas também associações, organismos públicos, ONG, pessoas ou grupos de interesse) e que tenham relevância pública para os meios a que destinam as suas mensagens.Mas fazem-no também, muitas vezes, apenas para ajudar um jornalista numa matéria sobre a qual possuem informações e contactos. E, muitas vezes também, sem nenhum benefício concreto para o seu cliente.Aliás, os jornalistas tão bem sabem disso que quantas vezes, para obterem dados ou documentos oficiais sobre um tema público, ligam directamente para as organizações e empresas não-estatais ligadas a esse tema. Sabem que, se essa informação existir, e não estiver sob reserva de confidencialidade, as consultoras tudo farão para ajudar.Não se trata aqui de bons samaritanos. Apenas e tão só uma forma transparente e desassombrada de trabalhar informação. Como F. Câncio diz, "a maioria dos assessores de gabinetes já foram jornalistas". Pois bem, nas consultoras também existem ex-jornalistas. A questão é que, para uma missão aparentemente igual, as posturas são diferentes. A diferença é que os consultores dependem da sua competência, do seu profissionalismo e da sua boa reputação para sobreviver. São pagos para trabalhar, gerir e disponibilizar informação, não para a sonegar ou reter. É outra atitude perante a informação. As consultoras são hoje reconhecidas como os players mais transparentes do sistema mediático (que os social media vieram ampliar, e onde as consultoras também já trabalham com profissionalismo).Dito isto, deixo aqui o repto: Para quando a profissionalização da comunicação pública? Como em qualquer organização, deve existir um responsável interno pela comunicação. Mas este deve ser apoiado por uma equipa profissional que sabe que a transparência e o acesso rápido a informação, as respostas oportunas às questões dos jornalistas são condição para um jornalismo também ele mais conhecedor e por isso de maior qualidade, evitando as "manipulações e distorções" que Fernanda Câncio também refere no post.Se, recentemente, o governo recrutou uma agência internacional para trabalhar informação pública junto dos media internacionais, porque não fazê-lo internamente, ao nível de ministérios, agências estatais e outros organismos públicos?Responder-me-ão que os assessores são cargos que exigem confiança? Claro. O trabalho das consultoras também se baseia em confiança e um consultor tem deveres éticos de lealdade, confidencialidade e verdade.Uma ideia sobre a qual gostava de saber a opinião dos partidos que defendem a transparência, a democracia e a sociedade civil.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.