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Inicio aqui uma série dedicada à crise do Covid 19 nas suas expressões de comunicação. Uma mais sérias, outras de puro humor, o humor que funciona como oxigénio no sufoco em que vivemos.
Começo com um conjunto de brincadeiras com logotipos de grandes empresas, concebidas e partilhadas por um jovem designer, Jure Tovrljan. Tenho a certeza que ninguém levará a mal, nem mesmo as marcas utilizadas.
Sabe o que é a proxémica?
Você é uma pessoa monocrónica ou policrónica?
Sabe como influenciar o cérebro primitivo? (sim, temos um e é o mais importante em comunicação)
Se tem dúvidas ou não sabe responder, é só consultar o capítulo "Comunicação Interpessoal" do novo livro de J. Martins Lampreia. Este livro, que é um manual para ler num fôlego ou consultar por tópicos, é uma verdadeira caixa de ferramentas, um guia precioso para o público-alvo que interpela, os gestores que não são profissionais de comunicação.
Como o autor explica na introdução, hoje não é possível ser um bom gestor sem ser um bom comunicador e sem estar integrado nos processos de comunicação da sua organização e da sociedade. E é isso que o livro traz, uma abordagem muito bem sistematizada e abrangente dos inúmeros domínios da comunicação. Da Comunicação Interpessoal à Comunicação Empresarial, passando pela Gestão de Crise e terminando nas cada vez mais profissionalizadas (se bem que não regulamentadas) Relações Institucionais e Lóbi.
Com muitos exemplos a ilustrar teorias e princípios básicos de comunicação, o livro tem ainda a mais valia de incluir histórias, recomendações e dicas de quem tem um enorme percurso na área. Por isso digo que este manual deve também ser lido pelos especialistas em comunicação. Eu, como sempre que leio Martins Lampreia, aprendi mais um pouco com a sua leitura.
PS: O livro "repesca" ainda três posts publicados neste blog, que convido a reler:
A bem ou mal, os advogados são imprescindíveis em processos de recuperação de crédito. Distinguem-se dos cobradores do fraque que só oferecem a opção "a mal". Distinguem-se também por não prometer ou garantir resultados, mas apenas assegurar que utilizarão todo o seu conhecimento da lei e a sua experiência para obterem os melhores resultados possíveis.
De certa forma, equiparam-se aos consultores de comunicação, que procuram criar ou recuperar a reputação dos seus clientes, não podendo nunca garantir resultados, mas apenas uma estratégia e uma boa metodologia de trabalho.
Em suma, as promessas de determinadas classes profissionais são pura e simplesmente proibidas e bem. A bem dos clientes e a bem das profissões. E as profissões auto regulam-se com estatutos e códigos de conduta.
Vem isto a propósito de uma sociedade de advogadas que se apresenta como especialista em recuperação de créditos. Um(a) bom(a) advogado(a) pode recuperar milhões para os seus clientes. É um trabalho sério e de, potencialmente, enorme valor acrescentado.
Ora, a dita sociedade apresentou-se em video e a polémica instalou-se. Como seria de esperar, a Ordem dos Advogados abriu um inquérito disciplinar. Vamos então às declarações do presidente da Distrital de Lisboa:
1. “O vídeo está a causar grande polémica e há quem o considera escandaloso e violador de todas as regras de publicidade, de probidade, decoro e de ética que a profissão de advogado exige”.
2. "O presidente do Conselho Distrital diz que o vídeo, onde as sócias promovem as actividades do seu escritório, especializado na recuperação de credito, pode violar as regras de publicidade previstas no estatuto que exigem que apenas seja dada informação objectiva sobre os escritório e proibindo por exemplo a “a menção à qualidade do escritório” ou “a promessa ou indução da produção de resultados”.
Há quatro dimensões a analisar neste tema:
- A dimensão deontológica: diz que a promoção viola os estatutos da Ordem dos Advogados. Não me parece que viole no âmbito da publicidade que os estatutos proibem porque, tanto quanto sei, publicidade não houve. Houve a criação de um site, com a descrição de serviços, a apresentação da equipa e os contactos. A grande inovação reside na inclusão de um video promocional que se tornou viral. Mas isto é a comunicação digital, que dispensa a publicidade tradicional e não cabe na visão ultrapassada dos estatutos da OA. Por aqui saíram airosamente.
- A dimensão da comunicação: o site é apelativo, sóbrio e elegante, remete para uma empresa moderna e alinhada com as expectativas dos clientes deste tipo de serviço. Saíram-se bem também.
- A dimensão da imagem: o video mostra mulheres atraentes e poderosas, a preto e branco. Uma imagem que incomoda e perturba. É pena que tenham sido exacerbados atributos de sedução feminina com conotações irrelevantes para o exercício da profissão. Se lermos os currículos das "partners", estes parecem suficientes para percebermos que têm formação académica e profissional compatível. Saíram-se mal.
- A dimensão ética: o video promocional (em baixo) promete resultados. Como já disse, há serviços profissionais que não podem eticamente prometer resultados. Os clientes de serviços como advocacia ou medicina depositam enorme confiança nos profissionais e, em larga medida, a sua vida pode depender deles. São clientes à partida vulneráveis e crentes, prontos a entregar-se a quem lhes salve a vida ou a conta bancária ou a reputação. Saíram-se muito mal e prestaram um mau serviço à profissão.
Concluindo: um conteúdo inovador e disruptivo, uma abordagem feminina e original ao negócio, que se perdeu ao ceder a falsas promessas e a esterótipos machistas. Só temos uma oportunidade para causar uma primeira boa impressão e essa parece-me perdida. É pena. Podem classificar o video na rubrica de créditos irrecuperáveis.
Aqui fica o video no Youtube que, na madrugada de 19 de dezembro, tinha quase 48.500 visualizações:
Marinho Pinto, o bastonário da Ordem dos Advogados, reconhece que precisa de uma agência de comunicação. Acontece que, muito provavelmente, não conseguiria contratar nenhuma.
Marinho Pinto é o típico cliente que nenhuma agência quer. Queixa-se de "pagar uma fortuna" e depois não sair nenhuma menção no Expresso. Queixa-se de falar ao Público com a sua protegida e só sairem as suas declarações. Queixa-se dos concorrentes serem mais eficazes na sua comunicação. Queixa-se.
No relambório de queixas, cai na contradição de acusar as agências de comunicação de serem simultaneamente eficazes e não eficazes. Eficazes para os outros concorrentes, ineficaz para si.
É o típico caso do cliente que não percebe, não quer perceber e tem raiva de quem percebe de comunicação. Livra.
Ora aqui está outro conceito que em Portugal vai pelas ruas da amargura, no que ao esforço diplomático oficial diz respeito. No caso, falta de respeito. No caso, pela bandeira nacional.Nation branding é a construção da imagem e da reputação de um estado-nação, e é medida através de uma série de indicadores, como a cultura, o regime, as pessoas, as exportações, o turismo, o investimento e a imigração. Em geral, é a percepção que os outros países têm do nosso.O nation branding é fomentado e tutelado pelo governo em muitos países. No Reino Unido, até lhe chamam "public diplomacy". O comentário de Segismundo Pinto tem duas palavras-chave: "tosca" e "desenrascar". É este o estado da nossa "public diplomacy".Valham-nos as pessoas, as empresas exportadoras e o turismo para não cairmos no fundo da tabela.Numa cerimónia oficial no México, o primeiro-ministro, Passos Coelho, discursou sob o pano de fundo de uma bandeira portuguesa diferente e não oficial. A Rádio Renascença (RR) conversou com Segismundo Pinto, do Instituto Português de Heráldica, que admite que a «tosca bandeira» tenha sido «fabricada no México para desenrascar».
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