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O "Caso SS" que caiu como um raio na cabeça do primeiro-ministro traz-nos um exercício interessante de argumentação política, comunicação de gestão de crise e os seus limites.
Perante uma evidência - porque confirmada pelo próprio - de incumprimento fiscal, ofereceram-se vários argumentos possíveis.
Começou-se pela argumentação racional, que contou com a presta colaboração do ministro da Segurança Social: foi um erro dos serviços, não notificaram.
Procurou-se juntar a esta explicação racional uma dimensão moral: não sabia que devia mas quando soube pagou.
Mas esta está a ser uma crise difícil de debelar, porque estamos no âmbito de um tema que convoca as mais profundas revoltas dos contribuintes, os malditos impostos. No caso concreto da Segurança Social, são milhares de portugueses a recibos verdes que conhecem - e odeiam - demasiado bem a lei.
O último argumentário, o de hoje, parece ser o último cartucho: o homem normal, imperfeito como todos os humanos. ""Não sou um cidadão perfeito, tenho as minhas imperfeições". Parecia à partida uma boa ideia. Passos sempre cultivou a imagem de um homem comum, com férias comuns, com casa em periferia comum. Como não perdoar a um homem comum pequenas imperfeições? Quem nunca tentou fugir aos impostos?
Como disse, parecia uma boa ideia. Mas um líder político com responsabilidades, e implacável apregoador das responsabilidades e deveres de todos os portugueses, jamais poderia usar esta última cartada. Em vez de um pedido de desculpas, tentou atrair a seu favor o pior que temos como cidadãos. Este não é um argumento mobilizador, muito menos uma mensagem política.
O que quer que venha a acontecer, não pode haver outro lance depois deste. Les jeux sont faits.
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