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Má informação ou má comunicação?

por Alda Telles, em 20.04.10
No tempo em que os ministérios, os institutos, as câmaras, a presidência, tudo e mais um par de botas (menos os tribunais) têm sites, "gabinetes de comunicação", assessores de imprensa e imagem e todo um exército de gente paga pelo erário público para disponibilizar informação e responder a perguntas, obter "dados" sobre seja o que for, é, como há 20 anos, um martírio.
Este extracto de um post da jornalista Fernanda Câncio intitulado "Má informação" deu o mote para uma ideia há muito discutida em Portugal (e não só) pelas consultoras de comunicação e relações públicas.Os casos relatados por F. Câncio como "Assessores de imprensa que nunca têm tempo para atender o telefone ou que quando o atendem é para dizer "mande-me um mail"; que chegam a levar meses (tenho um caso recente) a responder a perguntas e mesmo assim só parcialmente ou nada;(...)" estão nos antípodas da postura das consultoras.A missão das consultoras de comunicação é facilitar acessos, informação, dados, estatísticas, posições, comentários. Fazem-no, em primeiro lugar, para servir os interesses ou as necessidades de comunicação dos seus clientes (que podem ser empresas privadas, mas também associações, organismos públicos, ONG, pessoas ou grupos de interesse) e que tenham relevância pública para os meios a que destinam as suas mensagens.Mas fazem-no também, muitas vezes, apenas para ajudar um jornalista numa matéria sobre a qual possuem informações e contactos. E, muitas vezes também, sem nenhum benefício concreto para o seu cliente.Aliás, os jornalistas tão bem sabem disso que quantas vezes, para obterem dados ou documentos oficiais sobre um tema público, ligam directamente para as organizações e empresas não-estatais ligadas a esse tema. Sabem que, se essa informação existir, e não estiver sob reserva de confidencialidade, as consultoras tudo farão para ajudar.Não se trata aqui de bons samaritanos. Apenas e tão só uma forma transparente e desassombrada de trabalhar informação. Como F. Câncio diz, "a maioria dos  assessores de gabinetes já foram jornalistas". Pois bem, nas consultoras também existem ex-jornalistas. A questão é que, para uma missão aparentemente igual, as posturas são diferentes. A diferença é que os consultores dependem da sua competência, do seu profissionalismo e da sua boa reputação para sobreviver. São pagos para trabalhar, gerir e disponibilizar informação, não para a sonegar ou reter. É outra atitude perante a informação. As consultoras são hoje reconhecidas como os players mais transparentes do sistema mediático (que os social media vieram ampliar, e onde as consultoras também já trabalham com profissionalismo).Dito isto, deixo aqui o repto: Para quando a profissionalização da comunicação pública? Como em qualquer organização, deve existir um responsável interno pela comunicação. Mas este deve ser apoiado por uma equipa profissional que sabe que a transparência e o acesso rápido a informação, as respostas oportunas às questões dos jornalistas são condição para um jornalismo também ele mais conhecedor e por isso de maior qualidade, evitando as "manipulações e distorções" que Fernanda Câncio também refere no post.Se, recentemente, o governo recrutou uma agência internacional para trabalhar informação pública junto dos media internacionais, porque não fazê-lo internamente, ao nível de ministérios, agências estatais e outros organismos públicos?Responder-me-ão que os assessores são cargos que exigem confiança? Claro. O trabalho das consultoras também se baseia em confiança e um consultor tem deveres éticos de lealdade, confidencialidade e verdade.Uma ideia sobre a qual gostava de saber a opinião dos partidos que defendem a transparência, a democracia e a sociedade civil.

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publicado às 15:53

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6 comentários

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De Domingas Carvalhosa a 21.04.2010 às 12:11

Pois é, Alda. A questão, a meu ver, está centrada em dois pontos principais:

1. As entidades públicas não têm verdadeiramente vontade de comunicar e/ou comunicar com transparência;

2. Os assessores de imprensa dessas entidades por receberem o salário directamente através das mesmas não têm a distância necessária para alterar a postura comunicacional dos responsáveis da entidade empregadora. Nem mesmo para os influenciar no sentido correcto.

Parece-me que só mudando a atitude dos políticos face à utilidade da transparência na comunicação, a situação poderá mudar.

De outra forma essa é uma guerra inglória.

Bjos
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De Alda Telles a 21.04.2010 às 12:19

Concordo que é necessário vontade política e desejo de transparência. Mas penso que, para além disso, há uma gestão da comunicação nem sempre controlada pelos políticos e que, muitas vezes, prejudica as próprias instâncias. Por exemplo, nos timings ultrapassados em respostas muitas vezes simples e que geram a tal "deturpação" e desinformação que não serve aos políticos. If you see what I mean...
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De Alda Telles a 21.04.2010 às 12:20

E outra coisa: não lhe chamemos guerra, chamemos-lhe "sensibilização". E com um "lobby" interessante a ajudar: os jornalistas.
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De Domingas Carvalhosa a 21.04.2010 às 12:34

Alda,

Porque é que entidades ligadas ao poder central contratam apenas e sempre a mesma agência? Porque a fazem crescer e a passam a controlar.

Em consultoria de comunicação deve haver, SEMPRE, independência e distância suficiente para aconselhar e influenciar.

De outra forma não funciona.

Concordo que a desorganização, algumas vezes, serve o interesse de um jornalista que procure polémica.
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De Carlos Vargas a 21.04.2010 às 17:36

O recurso a profissionais de RP para melhorar a relação comunicacional entre o governo e um conjunto de media estrangeiros mostra que o problema já foi detectado.

O jornalismo só terá a ganhar se a fórmula se extender aos media nacionais. Na moderna produção informativa cabe às agências de comunicação um papel cada vez mais importante na intermediação entre fontes e os media.

Mesmo na comunicação oficial, que envolve por natureza temas e conteúdos de natureza política, a questão da confiança não deverá ser obstáculo.

A comunicação e as várias etapas da sua preparação são um trabalho de perfil eminentemente técnico, assente em regras deontológicas, a respeitar por ambas as partes.

Em múltiplos domínios da sociedade, são essas regras que permitem o exercício de profissões especializadas.

Se assim não sucedesse de facto como poderia o Estado, governo, autarquias e outros órgãos de natureza pública, contratar por exemplo juristas, consultores ou auditores externos para melhorarem a qualidade das suas decisões?

Poderia o trabalho desses especialistas ser dispensável pelo facto - evidente - de exigir confiança e deveres de lealdade e sigillo?

O mesmo princípio deveria ser aplicado à tarefa de bem informar e comunicar as notícias e acções do Estado.

Para um melhor jornalismo, uma melhor cidadania - e um melhor Estado.


Carlos Vargas

Jornalista
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De Alda Telles a 21.04.2010 às 18:44

Obrigado pelo seu comentário, Carlos. Acredito que a sua postura desassombrada perante as consultoras de comunicação será, cada vez mais, a da maioria dos jornalistas. Para lá vamos caminhando.
Como bem notou, são várias as empresas que trabalham para governo e entidades públicas em matérias sensíveis. Em todas as áreas, à competência técnica deve juntar-se, naturalmente, a ética.
E como refere aqui nos comentários a Domingas Carvalhosa, outra noção fundamental é a independência dos prestadores de serviços ao Estado. E essa independência vem, certamente, da diversificação dos prestadores.
Allea jacta est.

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