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A economia comportamental (behavioral economics) tem sido aplicada com especial utilidade na área das políticas públicas. O famoso livro "Nudge" de Richard Thaler (Nobel da Economia) e Cass Sustein inspirou vários governos, e em particular nos Estados Unidos e no Reino Unido, na delineação de pequenos "empurrões" (nudges), pequenos incentivos que levam as pessoas a agir (na direcção certa) sem se sentirem constrangidas a fazê-lo.
A ideia por trás desta teoria é que a tomada de decisão é geralmente irracional e a maioria das nossas decisões são formadas através de um processo heurístico, o chamado "rule of thumb". Por isso, se eu for subtilmente incentivada a tomar uma determinada decisão, tomo-a sem sentir que estou a ser obrigada a fazê-lo. A solução opt-in/opt-out é das mais utilizadas, sendo por cá um bom exemplo a doação de orgãos. De acordo com a legislação Portuguesa, todos somos considerados potenciais dadores, desde que não expressemos oposição à dádiva no Registo Nacional de Não Dadores. Esta pequena subtileza aumentou consideravelmente o número de dadores, mantendo a liberdade de escolha.
O caso dos sacos de plástico também nos é familiar: bastou imputar um pequeno custo aos sacos dos supermercados para a sua utilização (e desperdício) se reduzir significativamente. Os defensores da economia comportamental dizem que pequenos incentivos podem provocar profundas alterações no comportamento das pessoas.
Mas o que queria aqui falar hoje é da aplicação das nudges durante esta crise de coronavírus, no seu objectivo de nos ajudar a mudar os nossos comportamentos.
Uma das mais evidentes são os incentivos para lavarmos correctamente as mãos: a ideia de cantar os "parabéns a você" enquanto lavamos as mãos é uma forma de nos "empurrar" a fazê-lo e durante o tempo suficiente. Esta foi uma "nudge" criada pelo Serviço Nacional de Saúde britânico.
Também alguns supermercados utilizam marcas no chão para manter uma distância de segurança em relação ao balcão de atendimento. A minha versão preferida é, contudo, esta solução utilizada na Índia ;) (afinal, eles têm de proteger mil e quatrocentos milhões de pessoas!)
Fica claro que a ciência comportamental é um elemento importante na alteração de comportamentos e deve ser incorporada na comunicação estratégica desta crise. Contudo, ficou também claro que não é suficiente para combater a magnitude dos riscos que este surto comporta e levou a maioria dos países a declarar o estado de emergência, fazendo de alguns comportamentos força de lei.
Como em breve o país saberá se se mantém ou até se se reforça o estado de emergência, regressarei a este assunto.
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