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O ministro grego Varoufakis viveu um pesadelo nas redes sociais ao aceder a posar para uma foto-reportagem na Paris-Match, hoje transformada numa newsmagazine cor-de-rosa para grandes personalidades.
Varoufakis cometeu o erro imperdoável de ceder, não a uma tentação, mas muito provavelmente ao conselho de um especialista em comunicação.
É hoje consensual que os políticos ganham, em geral, vantagem em revelar o seu lado humano, os seus interesses pessoais, o seu ambiente familiar, a sua actividade fora da política. Quem segue "Os Influentes", na RTP2, viu ambos os conselheiros dos candidatos presidenciais (de direita) sugerirem uma reportagem sobre a vida pessoal.
A diferença é que na série, por razões diferentes, os candidatos recusaram. E também, provavelmente, Simon Kapita não teria aconselhado Varoufakis a posar para a Paris Match. Varoufakis, ingenuamente, talvez tenha acreditado que a sua imagem de homem bem casado, amante da dieta mediterrânica e dos livros, daria a faceta humana - e mundana - que completaria a sua imagem de economista e político "radical". Quem lesse a entrevista, encontraria conteúdos interessantes sobre a sua forma de estar, sobre a sua visão do mundo. Mas, como é evidente, estas entrevistas não são para ser lidas.
Varoufakis cometeu um pecado mortal para qualquer político de esquerda, e não tem relação directa com a crise grega. Um político de esquerda, em qualquer parte do mundo, não pode ter gosto pela vida, não pode comer peixe grelhado, não pode beber vinho branco, não pode ter casa com vista.
E sobretudo, não pode ter uma mulher loira.
(Excerto de artigo do Expresso, aqui)
Este é um artigo extraordinário para os profissionais de comunicação. Um simples parágrafo está carregado de paradigmas do estado da comunicação.
Acompanhem-me:
- Marinho Pinto, recém-eleito deputado europeu, é contactado "sucessivamente" por quatro jornalistas, dos quais três, segundo ele, trabalhadores activos em orgãos de comunicação social portugueses
- O que querem os jornalistas? A primeira entrevista ao neófito deputado em Bruxelas? Não, querem "fazer" a comunicação do deputado em Lisboa.
- Razão? A "má imprensa" do personagem. Deduz-se que aqueles jornalistas iriam fazer "boa imprensa" pelas suas próprias penas ou conseguir "boa imprensa" de colegas seus jornalistas.
- Como reagiu Marinho? Recusando o trabalho de jornalistas para fazer a sua comunicação, alegando que os profissionais de comunicação (ele chama-lhes comunicadores) estão "ao serviço de interesses hostis aos valores éticos do jornalismo".
Podemos concluir que Marinho Pinto, ao não contratar jornalistas para "fazer" a sua comunicação, livrou os jornalistas de se tornarem comunicadores "ao serviço de interesses hostis aos valores éticos do jornalismo".
Isto em tudo se aparenta a um silogismo, mas de silogismos está o inferno cheio.
O "Caso SS" que caiu como um raio na cabeça do primeiro-ministro traz-nos um exercício interessante de argumentação política, comunicação de gestão de crise e os seus limites.
Perante uma evidência - porque confirmada pelo próprio - de incumprimento fiscal, ofereceram-se vários argumentos possíveis.
Começou-se pela argumentação racional, que contou com a presta colaboração do ministro da Segurança Social: foi um erro dos serviços, não notificaram.
Procurou-se juntar a esta explicação racional uma dimensão moral: não sabia que devia mas quando soube pagou.
Mas esta está a ser uma crise difícil de debelar, porque estamos no âmbito de um tema que convoca as mais profundas revoltas dos contribuintes, os malditos impostos. No caso concreto da Segurança Social, são milhares de portugueses a recibos verdes que conhecem - e odeiam - demasiado bem a lei.
O último argumentário, o de hoje, parece ser o último cartucho: o homem normal, imperfeito como todos os humanos. ""Não sou um cidadão perfeito, tenho as minhas imperfeições". Parecia à partida uma boa ideia. Passos sempre cultivou a imagem de um homem comum, com férias comuns, com casa em periferia comum. Como não perdoar a um homem comum pequenas imperfeições? Quem nunca tentou fugir aos impostos?
Como disse, parecia uma boa ideia. Mas um líder político com responsabilidades, e implacável apregoador das responsabilidades e deveres de todos os portugueses, jamais poderia usar esta última cartada. Em vez de um pedido de desculpas, tentou atrair a seu favor o pior que temos como cidadãos. Este não é um argumento mobilizador, muito menos uma mensagem política.
O que quer que venha a acontecer, não pode haver outro lance depois deste. Les jeux sont faits.
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