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Numa conversa no twitter, fiquei entalada entre duas posições distintas sobre a nova identidade corporativa da cidade do Porto. Convidei os jovens debatedores a transporem as suas ideias aqui para o blog. Pedro Figueiredo abre as hostilidades. Joaquim ficou de dar a riposta. E eu sou a Fátima Campos Ferreira aqui do sítio.Nada de palmas, portanto. Ponto.

 

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O meu Porto, por Pedro Figueiredo Cabral*

 

 

 

 

Não cresci no Porto, mas perto. Ser estudante nesta cidade, de capa e batina durante tanto tempo, fez-me conhecê-la numa perspectiva algo romantizada e, de certa forma, acredito que é assim que todos os tripeiros também se revêm: a cidade não é perfeita, mas é a nossa cidade e por mais defeitos que tenha, é a cidade mais bonita do mundo.  Penso no Porto como uma cidade quase bipolar. Ser inquieto é desporto municipal e ninguém está totalmente bem, mas apesar disso age-se como se vivesse na plenitude de felicidade. Gosto de pensar que os cidadãos do Porto têm sempre uma visão mais positiva da vida do que comparados com os de outras cidades. Sim, os autocarros chegam sempre atrasados. “Mas hey, pelo menos há WiFi grátis para ir reclamar.” É como se a velha máxima da cidade, “Antiga, mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto” se tivesse ao longo do tempo entranhado na personalidade dos seus habitantes, que aprenderam a ser invictos na sua maneira de pensar e não deixam que nada os conquiste e deite abaixo.

O Porto também é bipolar por não ter simetria. Amantes da arquitectura de Barcelona ou New York provavelmente terão vómitos a pensar na organização dos arruamentos portuenses. As fachadas são todas diferentes umas das outras, as ruas não são paralelas e tanto se pisa calçada portuguesa como alcatrão. Mas ainda assim, a Casa da Música coexiste à sua maneira frente a frente com casas de arquitectura característica e antiga. O edifício da Vodafone faz torcer o nariz por parecer desenhado por um recém-nascido ou faz bater palmas pela irreverência. No Porto, o velho convive com o novo e tudo isto cria uma dinâmica muito especial e única. O Porto é uma cidade com tudo e para todos os gostos.

        

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Com uma carga de várias personalidades tão diferentes concentradas no mesmo centro como esta, é óbvio que tentar criar uma identidade gráfica que lhe faça justiça é algo difícil e ingrato. O Porto não é representável facilmente nem por palavras nem por imagens, visto que nenhum texto ou fotografia alguma vez conseguirá captar toda a sua essência. Por que motivo alguma vez seria de aceitar que uma cidade assim conseguisse ter uma só imagem universalmente aceite que a representasse? A ideia de a conceber estava, portanto, a priori destinada ao fracasso. Mas, antes de continuarem a ler este texto, convido todos a lerem a explicação de todo o trabalho de desenvolvimento da nova identidade gráfica da cidade do Porto, pelas palavras dos próprios autores. Está disponível no link http://www.behance.net/gallery/20315389/Porto e é sem dúvida uma explicação completa, lógica e histórica de tudo o que levou a este resultado final. Depois disto, não resta nenhuma grande explicação sobre o trabalho em si, mas sim opiniões muito pessoais desta linguagem visual. E esta é a minha.

Há três grandes questões que têm sido apontadas este trabalho feito pelo White Studio. A simbologia em si, a cor e o “ponto”. Vou tentar explorar aqui o que penso sobre os três. Mas primeiro algo relevante: antes, o Porto não tinha uma identidade gráfica. A autarquia tinha apenas um conjunto de logotipos desconexos entre si, em que nada assumia uma perspectiva de comunicação integrada geral e transversal a todos as entidades que a constituem. Ou seja: havia uma necessidade básica de unir todas as diferentes partes constituintes da cidade sob a mesma linha de pensamento e aí representá-las de uma forma visual que fosse perceptível por todos.

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O primeiro contacto que tive com a nova identidade foi ver o logotipo isolado da Câmara Municipal quando este foi publicado no facebook, sem antes ter lido textos, explicações ou ter conhecido o todo de que este elemento fazia parte. Achei horrível e que qualquer pessoa com um computador faria um “desenho” igual ou melhor. Achei impossível, uma brincadeira. Mas depois surgiu tudo o resto, e o que mais interessa é o resto. Já devia ter aprendido melhor com a vida no Porto que não se deve julgar apenas a parte, mas sim o todo. E aí sim, as coisas começaram a fazer sentido.  As três últimas versões do logotipo da C.M. Porto são bastantes diferentes entre si, e até podemos argumentar que a anterior, verde, era melhor conseguida que a nova. Mas esse logotipo era apenas um logotipo. É a pertença a algo maior, uma identidade global, que dá ao novo logotipo da Câmara toda a relevância e a distingue das anteriores. Por si só, considero o logotipo fraco. Mas é a questão de ser parte de algo maior, de um conjunto de símbolos que falam a mesma língua e que querem representar elementos de um meio comum, que o torna tão importante.

Pequenas coisas simples e isoladas conjugam-se numa coisa bonita e complexa. Esta é a minha visão do que é a nova identidade gráfica do Porto, e considero que a mesma frase se adequa perfeitamente para descrever a cidade. Esta identidade, que apesar de simples é uma abordagem em linhas modernas, foi apresentada através de um painel de centenas de azulejos pintados à mão que ostenta os diversos símbolos ligados entre si, lado a lado, em harmonia. Isto é mais significativo do que parece. Tal como no exemplo da coexistência da Casa da Música com os edifícios antigos, aqui a antiguidade da pintura em azulejo convive com a modernidade da filosofia de design empregue. 

A nova linguagem de identidade gráfica do Porto possui a capacidade de representar as mil-e-uma-caras da cidade, não só a nível de ícones individuais, mas também no resultante da conjugação infinitamente variável dos mesmos. Aliado à possibilidade de criar também novos ícones na mesma linguagem no futuro, o facto de não ser apenas um conjunto de imagens estáticas repetidas ao nível da exaustão visual, faz com que esta identidade tenha o essencial para que possa persistir durante muitos anos.

Quanto à cor, o Porto é azul. Não acredito que alguém lhe atribuísse o verde senão por ter sido assim decidido, caindo do céu. Surpreendeu-me saber um dia que a “cor do Porto” era verde. Para mim, se o Porto tivesse uma cor, seria o azul, talvez por influência de sempre ter associado a palavra “Porto” ao azul do FC Porto. Mas na verdade, o azul é uma cor predominante na cidade e desde sempre a acompanhou. O Metro do Porto e a STCP também já usavam o azul como sua cor. Os azulejos que decoram tantos monumentos de relevo internacional, como por exemplo S. Bento, uma das estações de comboios mais bonitas do mundo, são nos tons de azul utilizado nesta nova cor da cidade. Em suma, a equipa responsável por este trabalho deu agora oficialmente ao Porto a cor que este sempre utilizou.

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 O Porto não é lógico nem uniforme. Gosto muito do facto de que esta identidade reflita tal também. Com ela, não há uma forma única de se apresentar a cidade, mas sim um número infinito de combinações. Apesar dessas conjugações poderem gerar resultados bastantes diferentes, toda a gente sabe sobre o que dizem respeito. E não é este o objectivo de uma identidade? Tenho a certeza que no futuro vamos ver centenas de turistas a vestir “Porto, Ponto” e a internacionalizar esta marca que tão necessária era e que tanto potencial de variedade inspira na cidade e no seu turismo.

Um dos principais focos de crítica desta nova identidade gráfica é esse omnipresente ponto final no logotipo, que tantos acusam de transparecer arrogância e resistência à mudança. Percebo o que querem dizer com isso, mas não concordo. Vejo o ponto que acompanha a palavra Porto no logotipo da cidade como uma materialização politicamente correcta do já mítico “Porto, carago!”. É um traço de personalidade, uma característica da cidade e dos seus habitantes. Tal como em tantas outras situações, as coisas são simples mas as pessoas complicam-nas. O Porto não se quer definido, o Porto é o Porto e ponto final. Tal não é uma questão de arrogância, mas sim de auto-consciência e personalidade, numa cidade em que estes lhes são tão característicos.

Em tudo há prós e contras. A nova identidade do Porto foi uma jogada arriscada por todas as implicações que engloba, mas foi um passo extremamente necessário e, passadas algumas semanas, podemos concluir que foi bastante bem aceite por todos os que convivem com ela. Como todas, esta identidade tem prazo de validade. Nada dura para sempre, ainda para mais com algo que está presente em todos os cantos da cidade e é passível de cansar. Mas não acredito que essa validade seja de um mês ou um ano por todo o potencial de variação que possui. De louvar é também o facto de não ser um trabalho de design de custos milionários como muitas empreitadas online que o governo português pagou a peso de ouro: foi algo tão barato que nem necessitou de ajustar o orçamento da cidade, porque utilizou pequenas verbas já previstas. Até nisto se nota um processo que, se fosse noutra cidade seria de estranhar, mas por ser o Porto é apenas o que era esperado.

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 O Porto está agora apresentado visualmente. Antes, era um conceito abstracto apenas presente na mente das pessoas que o visitam. Hoje, tem uma representação simbólica que tenta ser um espelho da cidade. Esta identidade aproxima-se bastante da realidade, mas quando se trata do Porto, nunca nada será velho e novo, turístico e doméstico, moderno e antiquado como a própria cidade. Ponto.

 

* Estudante de Ciências da Comunicação na Universidade do Porto.

 

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publicado às 21:37

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