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Mário Crespo, na sua pungente despedida ontem à noite dos écrans da SIC Notícias, terminou com um religioso-patriótico "Deus abençoe Portugal". Eu traduzo: o que ele realmente disse foi "God bless Portugal".
A sua inapelável admiração pela cultura norte-americana trouxe-lhe vários dissabores e desde que saiu de Washington como correspondente nunca mais se reconciliou com a televisão pública e, em certa medida, com a sua vida profissional. As suas inegáveis qualidades de entrevistador/comentador na SIC pareciam sempre infectadas de uma inultrapassável agrura.
Esse apelo ao jornalismo e à cultura norte-americana teve ontem a sua expressão máxima no "God bless Portugal", que deve ter traduzido para português num último instante de pudor.
Não deixa, porém, de ser curioso que um conhecedor como Crespo da cultura política norte-americana, não saiba as origens pouco simpáticas do termo que passou a ser rotina nos discursos presidenciais.
"God bless America" foi dito pela primeira vez por Richard Nixon em 1973, em plena crise do escândalo Watergate: "Tonight, I ask for your prayers to help me in everything I do throughout the days of my presidency.God bless America and God bless each and every one of you."
Seria só Ronald Reagan, em 1980, a recuperar a frase e a torná-la a "assinatura standard" dos discursos presidenciais.
Hoje é uma expressão sem significado, ou até mesmo contradizente com um estado laico, mas que tem de ser dita porque todos estão à espera que seja dita. É o equivalente a usar um pin da bandeira na lapela.
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