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Ou lóbis, como preferirem. Lobbys é que não.
Ultrapassada a irritação do erro ortográfico, centremo-nos no conteúdo deste relato do Jornal de Negócios.
Não sei se ambos os personagens desta pequena rábula descrita no artigo têm o mesmo conceito de lóbi e se se estão a referir à mesma coisa. Certo é, foi um momento de indignidade para ambas as partes. O secretário de Estado dá a entender, em estilo futebolístico, que "todos compreendem do que estou a falar", o que não é certo. Muito menos é forma de um governante se expressar relativamente a eventuais grupos de pressão e partes interessadas na distribuição dos fundos comunitários. (Mais à frente parece que se terá referido expressamente a autarcas e quadros da administração, e também falou em "negócios da formação").
Mais grave, dá a entender que será "capaz de resistir" se "tiver ajuda", apelando directamente a um jornalista/comentador, presumo que ali presente na qualidade de jornalista para "dar uma boa ajuda".
Esta abordagem, totalmente inadequada para um governante, colocou também o jornalista numa posição muito incómoda. O que queria Castro Almeida dizer com isto? Que Camilo Lourenço é visto pelo governo como um "bom ajudante"? Que o governo conta com ele?
O secretário de Estado revelou uma enorme inabilidade na gestão da resposta a uma pergunta que já de si continha toda uma crónica sobre os malvados lóbis. O secretário de Estado devia saber, e explicar aos presentes, que o lóbi é uma actividade legítima e inerente à própria democracia. Ele sabe que a gestão de fundos comunitários é alvo de pressões das mais variadas áreas e entidades cujo funcionamento depende, legitimamente, do Quadro Comunitário de Apoio, criado justamente para essas áreas. As entidades que se candidatam e que procuram maximizar a sua parte do bolo operam num quadro legal, mas sabem que a tal distribuição de fundos depende das prioridades políticas e económicas do governo. Nada de mais natural, portanto, que exerçam "pressão" em favor das suas áreas e dos seus projectos.
Um governante que tem esta responsabilidade em mãos não pode ir para um almoço-debate como quem vai para uma flash-interview responder de forma insidiosa a uma questão que, independentemente do seu objectivo, tocou num ponto essencial para os próximos anos em Portugal: como vão ser aplicados os fundos comunitários? Isso é que queremos saber.
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