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Gordon Brown está a viver um dos maiores pesadelos que um político em vésperas de eleições pode viver. Foi difundida uma conversa privada com o seu staff (creio que pela Sky News) e cuja novela podemos ver aqui.
É provável que este episódio não tenha uma influência decisiva nas votações. Nesta altura, quem não gosta de Brown tem mais motivos para alimentar ódios, quem já pretendia votar Labour não levará o desabafo a peito. Pelo menos, uma sondagem ontem do Sun (que o jornal, significtivamente, não publicou) revelou que a maioria dos ingleses não se sentiu especialmente incomodada com os comentários.Em termos de comunicação, o "Bigotgate" suscita duas questões que me interessam. A primeira, a divulgação de uma conversa completa e inequivocamente privada entre Brown e o seu staff, dentro do seu carro, com a porta fechada. O facto de o microfone ter ficado ligado não justifica, na minha opinião, que a estação de televisão tenha utilizado o que designo de verdadeiras "escutas ilegais".Há quem dirá que são de "interesse público", porque "revelam o verdadeiro carácter" e a hipocrisia de Brown. Hipócritas são aqueles que fingem acreditar que, como muito bem disse Vasco Campilho no twiiter, "não há ninguém que, nalgum momento, não tenha acenado a alguém enquanto entre-dentes lhe chamava de parvo". Isto não define o carácter de ninguém, muito menos um político desgastado, sob enorme stress, numa disputa eleitoral renhida.O segundo aspecto, e o que mais me interessa, é a "gestão da crise mediática" dos conselheiros de Gordon Brown. O pedido de desculpas público, a explicação dada numa entrevista à BBC, creio que se impunha. O caso foi demasiado exposto.A ida de Brown a casa da Sra. Duffy, para lhe dar explicações pessoalmente, e ainda se desculpar com o seu satff, foram, a meu ver, patéticas e absolutamente desnecessárias. Segundo as sondagens, os mesmos que acharam um escândalo o que ele disse da "bigotuda" senhora, acharam que Brown não estava a ser sincero (e acredito que não) e os que não lhe deram importância talvez se tenham sentido um pouco incomodados.O desvario mediático, levado aos extremos no Reino Unido (parece que a Sra. Duffy já tem um agente de relações públicas) leva ao desnorte da comunicação de crise. Estamos a criar políticos patetas e medrosos e uma opinião pública intoxicada, quando os desafios dos países e das populações nunca foram tão terríveis.Uma bela campanha dos 100 anos da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), e a justa homenagem à Vírgula, esse sinal hoje tão maltratado. Sinal dos tempos.
Vírgula pode ser uma pausa... ou não.Não, espere.Não espere..Ela pode sumir com seu dinheiro.23,4.2,34.Pode criar heróis..Isso só, ele resolve.Isso só ele resolve.Ela pode ser a solução.Vamos perder, nada foi resolvido.Vamos perder nada, foi resolvido.A vírgula muda uma opinião.Não queremos saber.Não, queremos saber.A vírgula pode condenar ou salvar.Não tenha clemência!Não, tenha clemência!Uma vírgula muda tudo.ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.No tempo em que os ministérios, os institutos, as câmaras, a presidência, tudo e mais um par de botas (menos os tribunais) têm sites, "gabinetes de comunicação", assessores de imprensa e imagem e todo um exército de gente paga pelo erário público para disponibilizar informação e responder a perguntas, obter "dados" sobre seja o que for, é, como há 20 anos, um martírio.Este extracto de um post da jornalista Fernanda Câncio intitulado "Má informação" deu o mote para uma ideia há muito discutida em Portugal (e não só) pelas consultoras de comunicação e relações públicas.Os casos relatados por F. Câncio como "Assessores de imprensa que nunca têm tempo para atender o telefone ou que quando o atendem é para dizer "mande-me um mail"; que chegam a levar meses (tenho um caso recente) a responder a perguntas e mesmo assim só parcialmente ou nada;(...)" estão nos antípodas da postura das consultoras.A missão das consultoras de comunicação é facilitar acessos, informação, dados, estatísticas, posições, comentários. Fazem-no, em primeiro lugar, para servir os interesses ou as necessidades de comunicação dos seus clientes (que podem ser empresas privadas, mas também associações, organismos públicos, ONG, pessoas ou grupos de interesse) e que tenham relevância pública para os meios a que destinam as suas mensagens.Mas fazem-no também, muitas vezes, apenas para ajudar um jornalista numa matéria sobre a qual possuem informações e contactos. E, muitas vezes também, sem nenhum benefício concreto para o seu cliente.Aliás, os jornalistas tão bem sabem disso que quantas vezes, para obterem dados ou documentos oficiais sobre um tema público, ligam directamente para as organizações e empresas não-estatais ligadas a esse tema. Sabem que, se essa informação existir, e não estiver sob reserva de confidencialidade, as consultoras tudo farão para ajudar.Não se trata aqui de bons samaritanos. Apenas e tão só uma forma transparente e desassombrada de trabalhar informação. Como F. Câncio diz, "a maioria dos assessores de gabinetes já foram jornalistas". Pois bem, nas consultoras também existem ex-jornalistas. A questão é que, para uma missão aparentemente igual, as posturas são diferentes. A diferença é que os consultores dependem da sua competência, do seu profissionalismo e da sua boa reputação para sobreviver. São pagos para trabalhar, gerir e disponibilizar informação, não para a sonegar ou reter. É outra atitude perante a informação. As consultoras são hoje reconhecidas como os players mais transparentes do sistema mediático (que os social media vieram ampliar, e onde as consultoras também já trabalham com profissionalismo).Dito isto, deixo aqui o repto: Para quando a profissionalização da comunicação pública? Como em qualquer organização, deve existir um responsável interno pela comunicação. Mas este deve ser apoiado por uma equipa profissional que sabe que a transparência e o acesso rápido a informação, as respostas oportunas às questões dos jornalistas são condição para um jornalismo também ele mais conhecedor e por isso de maior qualidade, evitando as "manipulações e distorções" que Fernanda Câncio também refere no post.Se, recentemente, o governo recrutou uma agência internacional para trabalhar informação pública junto dos media internacionais, porque não fazê-lo internamente, ao nível de ministérios, agências estatais e outros organismos públicos?Responder-me-ão que os assessores são cargos que exigem confiança? Claro. O trabalho das consultoras também se baseia em confiança e um consultor tem deveres éticos de lealdade, confidencialidade e verdade.Uma ideia sobre a qual gostava de saber a opinião dos partidos que defendem a transparência, a democracia e a sociedade civil.
Uma das minhas colaboradoras, formada no ISCSP, comentou hoje, com satisfação, o "salto de qualidade" e afirmação a sua antiga escola.
De facto, temos acompanhado as iniciativas do Núcleo de Ciências da Comunicação e, da oferta que conheço no mercado português, a qualidade dos temas, programas e oradores do ISCSP, resulta um nível superior de interesse e oportunidades que os profissionais de comunicação podem - e devem - aproveitar.
Pensado primariamente para os seus alunos (um luxo), os eventos do ISCSP procuram trazer o melhor do mundo profissional para o mundo académico. Mas, é bom dizê-lo, traz também aos profissionais o acesso a experiências e contactos com outros profissionais. Num momento de crise, eis uma oportunidade para empresas e comunicadores investirem na sua formação.
Já aqui referimos um interessante seminário sobre marketing de turismo e marketing de luxo a que tivemos oportunidade de assistir.
Agora, o ISCSP brinda--nos com um cartaz de luxo nas "Jornadas da Comunicação 2010". Deixo-vos aqui o programa. E deixo os meus parabéns à organização na pessoa de Prof. Raquel Ribeiro, grande dinamizadora da escola e autora de um blog sobre marketing e comunicação, aqui referenciado no lado direito.
Fazendo uma arqueologia do espaço público, Habermas mostra que o princípio em que se baseia a verdade do Estado moderno é a ideia do povo soberano, que deve, por sua vez, exprimir-se sob a forma da opinião pública.Se a lógica de um Estado de coisas se torna facilmente apreensível nos seus fenómenos extremos, então devemos pensar que nada ilustra melhor a perversão dessa ideia moderna de opinião pública do que o lixo opinativo dos blogues e das caixas de comentários dos leitores dos jornais online-caricaturas grotescas da hipertrofia da opinião mediática.Este fluxo imparável da opinião é o oposto da liberdade de pensamento e comunicação.É uma conversa que se molda inteiramente pela vontade do reconhecimento e segundo os critérios que são os de uma ortodoxia partilhada pelo grupo a que se pertence, simetricamente recusada por outros grupos cuja aspiração é a mesma: triunfar nas guerras da opinião e ocupar um lugar nesta opinião e ocupar um lugar nesta dialéctica sem síntese.Faz lembrar a história contada por Hegel: uma vendedora de ovos a quem um cliente diz "Os seus ovos estão estão podres" responde por seu turno, " Podre está o senhor, e a sua mãe, e a sua avó."
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