por Alda Telles, em 16.12.10
Convidado: Joaquim Martins LampreiaO sociólogo William Thomas formulou em 1928 um conceito que ficou conhecido como o teorema de Thomas, e a actual falta de açúcar no nosso mercado constitui um exemplo bem ilustrativo da aplicação deste teorema, que basicamente pode ser enunciado da seguinte forma:“ Aquilo que as pessoas assumirem como verdadeiro, mesmo não o sendo, tem consequências verdadeiras”.Dava como exemplo o sistema bancário, em que todos nós assumimos que quando depositamos o nosso dinheiro num banco, esse dinheiro estará lá à nossa disposição, podendo nós levantá-lo sempre que quisermos. Mas na realidade, o nosso dinheiro, como bem sabemos, não fica parado no banco, que vai reutilizá-lo para empréstimos e transacções financeiras diversas.E se um dia, todos os clientes desse banco se lembrassem de levantar os seus depósitos ao mesmo tempo, estariam perante um imenso problema, pois o banco não teria lá o seu dinheiro.Todos nós sabemos isso, e no entanto, todos assumimos que o dinheiro está sempre lá, à nossa disposição, mesmo não sendo essa a realidade.E é essa assumpção colectiva que permite que o nosso sistema bancário e financeiro funcione em pleno.Encontraremos muitos exemplos semelhantes, desde as situações mais banais que ocorrem no nosso dia a dia, (e de que a maior parte das vezes nem damos por elas), até situações bem mais complexas relacionadas com todo um sector de actividade ou mesmo na esfera politica.Em comunicação, o teorema de Thomas é aplicado com muito mais frequência do que se pode supor, tanto através da publicidade, como das Relação Publicas, em Gestão de Crise, em Comunicação Politica ou no Lóbi. O que é normal, considerando que a comunicação é a base de sustentação deste conceito. Sem comunicação entre várias partes envolvidas, o teorema de Thomas não teria razão de existir, nem nunca poderia ser aplicado.Compreende-se assim o importante papel que os Mass Media podem desempenhar em todo este processo.E não posso deixar de aproveitar a última situação vivida em Portugal com a escassez de açúcar, para ilustrar esta ideia.O facto de haver temporariamente menos açúcar no mercado, não constitui de per se um problema de maior, nem leva a esgotar prateleiras de supermercados. Como aliás acontece ciclicamente de forma idêntica com outros produtos, alimentares ou não, e em que a situação não chega sequer a ser percebida pela maioria dos consumidores.No caso vertente, foi por alguns órgãos de informação se terem referido à situação com algum alarmismo (ignoro se o fizeram espontaneamente ou se a isso foram induzidos) que gerou a preocupação colectiva do açúcar poder acabar.A partir do momento em que as pessoas assumiram que o açúcar ia faltar por completo (mesmo não sendo essa a realidade) é que se gerou uma onda de pânico, levando a um açambarcamento do produto, e que teve como desfecho a falta (real) de açúcar nas prateleiras das mercearias e supermercados.A assumpção generalizada (e errada) de que o açúcar ia faltar, teve como consequência real a total falta do produto no mercado.É fácil imaginar um cenário totalmente diferente, se os Media não tivessem referido o caso, muito provavelmente a opinião pública nem se teria apercebido da situação e a escassez temporária do produto certamente nem se teria feito sentir.A terminar, chamo a atenção para o facto da aplicação desajustada do Teorema de Thomas em qualquer das áreas da Comunicação poder revelar-se um pau de dois bicos, e ter efeitos perversos e totalmente opostos aos desejados.Viu-se essa tentativa recentemente em Comunicação Politica, quando um governante afirmou que a economia estava a recuperar, com todos os incómodos que essa declaração causou ao governo...J. Martins LampreiaConsultor/Lobista
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