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Boeing 737 Max 8/Getty Images
A propósito da enorme crise de reputação que a Boeing enfrenta na sequência do acidente da Ethiopian Airlines, e cujas consequências totais ainda são imprevisíveis, deixo aqui nota da actividade de lobbying da construtora norte-americana.
De acordo com o site Politico, que cita os números oficiais de divulgação obrigatória pela legislação do lobby, a Boeing é um dos maiores utilizadores de lobbying em Washington, tendo gasto o ano passado mais de 15 milhões de dólares em serviços externos.
São cerca de 20 firmas de lobbying que trabalham actualmente para a Boeing, incluindo: Baker & McKenzie; Ballard Partners; CGCN Group; Cornerstone Government Affairs; Etherton and Associates; Gephardt Group; Jerry Costello Group; K&L Gates; Lamont Consulting Services; Lugar Hellmann Group; Mehlman Castagnetti Rosen & Thomas; Monument Advocacy; Norm Dicks & Associates; Roberti Global; S-3 Group; Shank Public Policy; Simmons & Russell Group; Stapleton & Associates; e Washington Council Ernst & Young. Um verdadeiro exército.
Com a crise instalada, é de crer que os números aumentarão, quer em firmas quer em orçamento, não só em Washington mas também - e sobretudo, diria eu - em Bruxelas.
De acordo com o site Lobbyfacts.eu, em Bruxelas a Boeing tem 6 lobistas declarados e custos de lobbying em 2018 estimados entre 200 mil e 300 mil euros. Números que irão certamente disparar e provavelmente regressar no mínimo aos valores de 2014, quando os custos de lobbying ultrapassavam os 400 mil euros. Um caso a acompanhar.
A Academia Sueca está provavelmente a viver uma das suas maiores crises de reputação.
Depois da polémica atribuição este ano a um autor mundialmente reconhecido como genial artista das canções, vê-se agora na embaraçosa situação de não ter, ao fim de quase uma semana, qualquer reacção do laureado.
Ao colocar o Nobel da Literatura num terreno, no mínimo, ambíguo, a Academia está agora a sofrer dessa ambiguidade. Quem sabe, porque o próprio Dylan se sentiu desconfortável com a atribuição.
Quer se aprove ou desaprove o critério "disruptivo" da nomeação, e qualquer que venha a ser o desfecho, o certo é que um dos mais prestigiados prémios mundiais da literatura tem a sua reputação abalada. Provavelmente, de forma irremediável.
Parafraseando o Nobel 2016, "A mistake is to commit a misunderstanding".
Tornou-se viral o video em que o jogador de futebol brasileiro Dani Alves comeu em campo a banana que um adepto lhe atirou. A banana tornou-se rapidamente, em todo o mundo, um símbolo da repulsa por atitudes racistas.
O atleta português Nelson Évora não perdeu a oportunidade de contar o que se passou com ele e um grupo de amigos num espaço lisboeta chamado Urban Beach (e que passe a má publicidade). Gerou uma profunda reacção de repulsa e onda de solidariedade no Facebook.
Esse espaço de má nota teve o seu momento "Oprah na Hermes". Em ambos os casos, o "racial profiling" dos responsáveis ou dos empregados dos estabelecimentos teve o azar de se confrontar com figuras públicas, que amplificaram os acontecimentos.
A denúncia nas redes sociais é o pior pesadelo das marcas pelo movimento imediato de partilha que gera. Na maior parte das vezes, passa para a comunicação social. Veremos a amplificação do seu impacto para fora das redes sociais e, sobretudo, vamos ver como a marca reage. Não sei se a reputação é uma das preocupações do Grupo K. Se não é, devia ser e um pedido de desculpas a clientes que, para mais, são atletas que representam o melhor do país, seria o mínimo exigível.
Adenda: o presidente do Conselho de Administração do Grupo K respondeu:
Caro Nelson Évora,
Fomos surpreendidos com a publicação no mural da sua página do Facebook de uma foto com conotação xenófoba, com o objectivo de denunciar uma alegada situação de "racismo", supostamente praticada por um funcionário do Urban Beach.
Confesso a nossa incredulidade no que refere à situação que relata, pois não existe qualquer tipo de instruções por parte da administração da empresa para excluir, seja quem for por razões raciais, políticas, religiosas ou outras.
Aliás, ao que nos informam, o Sr. Nelson Évora frequentou em outras ocasiões o estabelecimento, sem qualquer tipo de constrangimentos.
Temos igualmente alguma dificuldade em entender o propósito de fazer publicamente essa acusação infundamentada, uma semana após a suposta ocorrência.
Existe sim naquele espaço um código de conduta, e o chamado "Dress Code", sendo que quem se encontre desenquadrado, terá o acesso condicionado.
Foi isso mesmo que foi explicado à pessoa em questão.
Temos mantido ao longo destes 25 anos inúmeros clientes das mais diferenciadas raças e etnias, nunca utilizando a diferença racial para realizar qualquer tipo de discriminação.
Detemos igualmente nos nossos quadros de pessoal elementos das mais diversas origens raciais, com base apenas nas suas qualidades profissionais.
Se apesar do que nos foi relatado, o funcionário em questão proferiu efectivamente o que relata, pedimos-lhe desde já, que aceite as nossas mais sinceras desculpas, pois não só não nos revemos nessa atitude, como abominamos a mesma.
Cordiais Cumprimentos,
Paulo Dâmaso de Andrade
Presidente do Conselho de Administração
Grupo K
O presidente da Venezuela anunciou ontem a criação de um "Ministério para a Comunicação Internacional, dedicado exclusivamente à defesa mundial da Venezuela".
Nicolas Maduro tem-se focado, nos últimos tempos, naquilo que diz ser uma "guerra mediática de desinformação" contra a Venezuela. Durante a vaga de protestos em fevereiro passado, e quando uma manifestação terminou em violência no centro de Caracas, diversas montagens contra Maduro e o governo foram disseminadas nas redes sociais, e em cadeias de televisão internacionais como a CNN.
Maduro entende que existe "um plano internacional contra a Venezuela" que se desenvolve por via mediática, e onde se incluem os meios digitais, onde imagens, falsas ou verdadeiras, percorrem o mundo em questão de segundos, sem a maioria das pessoas verificarem a sua origem antes de as partilharem.
O caso de Maduro, por muita paranóia que se lhe queira eventualmente atribuir, contém um facto real no cenário político actual. A guerra da comunicação política desenvolve-se hoje na rede mundial e os regimes enfrentam desafios cada vez mais complicados na gestão da sua reputação internacional.
Os foros tradicionais como a ONU, a subcomissão de Direitos Humanos, a Organização de Estados Americanos ou a União de Nações da América do Sul, onde Maduro diz que a Venezuela goza de "muito prestígio", estão a perder credibilidade e influência em termos do reconhecimento internacional dos regimes.
A guerra da comunicação é, cada vez mais, uma guerra de "inteligência da comunicação". Os exércitos recrutam-se agora nas redes sociais.
[Imagem retirada do DN online]
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