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Fotografia de Hugo Amaral, Observador

 

Esta semana, o Observador publica duas narrativas sobre as campanhas para as eleições europeias: Gonçalo Bordalo Pinheiro revela os bastidores da campanha de Francisco Assis e Miguel Pinheiro acompanhou a campanha de Paulo Rangel.

 

Chamo-lhes narrativas porque não são artigos, não são reportagens, não são histórias. São uma nova forma de relato jornalístico, em que a informação se mescla com interpretação (diria até que alguma imaginação), uma postura mais subjetiva e quase que íntima perante os políticos e as máquinas partidárias e, sobretudo, muitos detalhes "picantes" e eventualmente incómodos para os retratados. É como se estivéssemos a seguir o jornalista através da sua câmara oculta, partilhando segredos e as petites histoires de uma campanha. Um deleite para o leitor voyeur que há em todos nós.

 

Podemos dizer que, com estas duas peças, o Observador trouxe um novo jornalismo aos media portugueses? Acho que o podemos dizer. Não o digo com maiúsculas, porque o conceito de "Novo Jornalismo" (New Journalism) aconselha alguma prudência no seu uso para descrever estes trabalhos. Não estamos perante peças literárias, nem no estilo nem na forma narrativa. Mas temos, certamente, uma nova forma de contar a vida política, de forma assaz impiedosa na sua faceta escondida, no seu "dark side" que alguns conhecem mas nela não se reconhecem, que outros não conhecem e agradecem.

 

Quem não deve ter agradecido foram os objectos da narrativa...

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publicado às 19:00

O Observador e o posicionamento dos media

por Alda Telles, em 21.05.14

 

Rápida primeira leitura sobre o novo jornal digital "Observador":

 

Pontos positivos

- Bom layout, bem adaptado a tablets e smartphones

- Excelente estratégia de comunicação "one-to-one" com os leitores registados. Os emails recebidos de manhã (com os temas que vão marcar o dia) e ao fim do dia são uma ideia brilhante que cria uma relação de intimidade com o jornal

- Rubrica "O Explicador" 

- Posicionamento político e ideológico inequívoco

 

Pontos negativos

- A rubrica "O Explicador" tem recebido diversas críticas quanto à sua falta de rigor. Talvez se explique por uma redacção demasiado jovem e inexperiente

- Os colunistas de opinião, monocromáticos e monótonos, não fazem "comprar" o jornal

 

Uma breve nota sobre a reportagem sobre o casal "neo-nacional-socialista" que gerou polémica nas redes sociais, incluindo fortes reacções na página de facebook do jornal (onde alguns utilizadores se queixaram de comentários negativos apagados). Essa reportagem que teve, na minha opinião, um objectivo de reablitação da imagem do neonazi Mário Machado (tanto mais que na primeira edição já tinha sido objecto de outro artigo, em que se demarca da organização de "criminosos" que anteriormente dirigiu). Apesar desta interpretação ter sido recusada, com pouca convicção, pelo "publisher" José Manuel Fernandes ("Contar uma história humana que envolve Mário Machado não é absolver ou condenar Mário Machado: é ajudar a perceber que em política, na vida democrática, são as ideias que são realmente perigosas, não as pessoas", nas suas palavras), acredito que as reacções foram muito superiores ao que os editores esperavam.

Houve quem acusasse o jornal de lançar uma reportagem polémica com um objectivo de marketing, para gerar muitas visitas e rápida notoriedade. Houve quem acusasse o jornal de defesa dos ideais neonazis de Mário Machado. Não concordo com nenhuma destas leituras. Na minha opinião, surgiu uma oportunidade editorial (não esqueçamos que MM já iniciou há algum tempo uma campanha de comunicação a preparar o seu regresso, com entrevistas no princípio do mês à Sábado, ao Correio da Manhã e ao Jornal de Notícias, pelo menos).a que se juntou uma motivação ideológica liberal (não podemos assumir como neonazi) do jornal.

 

Penso que o Observador não esperava atingir, em dois dias, aquilo que uma marca mais ambiciona: conseguir o posicionamento na cabeça dos consumidores alinhado com o posicionamento desejado, ou seja, um jornal de direita com uma agenda política de médio prazo.

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publicado às 19:03

El perro guardián ha sido narcotizado

por Alda Telles, em 05.05.14

Esta frase de Pedro J Ramirez (ex-director do "El Mundo" e conhecido no meio como Pedro Jota) é mortífera e certeira. Pedro J falava a semana passada em Lisboa, numa conferência sobre o "Poder dos Media" promovida pela consultora GCI e pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. (O jornalista reproduziu no El Mundo de ontem a base da sua conferência em Lisboa e pode ser lida aqui.)

 

Mortífera, porque marca uma tendência que todos os consumidores de informação sentem. A concentração económica nos media, a par de uma profunda crise de recursos, reduz substancialmente esse tal poder de investigar, denunciar e proteger. É nesse sentido que para Pedro J a função watchdog do jornalismo está narcotizada, para não dizer moribunda.

 

Pedro J referiu também que o futuro dos media, a sua sobrevivência, depende das edições digitais. Vaticinando o fim da imprensa impressa daqui a 15 anos na Península Ibérica, o jornalista diz que "o jornalismo precisa de amigos" e que "esses amigos são os assinantes digitais".

 

A frase de Pedro J é também certeira porque, na mesma semana, são publicados os dados da APCT relativos ao primeiro bimestre de 2014. A tendência de perda de leitores, em praticamente todos os segmentos, é gritante. O número médio de exemplares vendidos em papel, por edição, na imprensa diária generalista, diminuiu 10 por cento face ao primeiro bimestre de 2013. Num ano, os diários perderam cerca de 20 mil leitores por dia. Os semanários perderam mais de 36 mil.

 

Parece mais ou menos evidente que as empresas proprietárias dos títulos têm de ter capacidade para assumir perdas crescentes, enquanto não se encontrar um modelo sustentável de negócio digital. Isto significa uma de três coisas: mais concentração, mais redução de custos ou agenda política.

 

O oásis das assinaturas digitais

 

Apesar da boa evolução registada na circulação digital paga, os números são absolutamente residuais:  o líder no digital pago, o Expresso (semanário) tem nove mil assinantes, o Público cerca de 6500 e a Visão pouco mais de 3500... Quando pensamos que Pedro J foi afastado pelos maus resultados do El Mundo que tem, segundo ele, 120 mil subscrições pagas.

 

Entretanto, surgem este mês duas novas plataformas informativas digitais. Amanhã arranca o Expresso Diário online e logo a seguir surgirá o Observador. São dois modelos de negócio totalmente distintos. O Expresso será pago e o Observador será gratuito. Vamos ver como se comportam os respectivos "perros guardianes".

 

 

Nota: sobre a crise nos media, ler este artigo de J-M Nobre Correia no último DN.

 

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publicado às 17:47

Manuel Valls, um homem da comunicação

por Alda Telles, em 31.03.14

 

Valls em 2000 com o primeiro ministro Lionel Jospin

 

 

O novo chefe do governo francês, Manuel Valls, conhecido pela sua linha dura, reforçada pela circunstância de ter sido até agora o "ministro das polícias", é um homem da comunicação.

 

Entre 1997 e 2001 foi o assessor de imprensa de Lionel Jospin, primeiro ministro naquela época.

 

Arranca o mandato, à partida, com três vantagens:

 

- Conhece os media e os jornalistas

- Não beneficia da simpatia geral dos jornalistas, que o consideram brilhante mas arrogante

- Não gosta de jornalistas, mas respeita-os e sabe do seu poder.

 

Tem portanto todos os ingredientes para uma gestão eficaz da comunicação do seu governo e não se arrisca sequer a um "período de lua de mel" com a imprensa que tantas vezes inebria e depois desilude governantes mal preparados para a realidade mediática.

 

 

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publicado às 19:22

Tributo a McLuhan

por Alda Telles, em 28.02.11
Convidado: Joaquim Martins LampreiaCelebra-se este ano, um pouco por todo o mundo, o centenário do nascimento de Marshall Mcluhan, parecendo-me oportuno prestar um justo tributo a este vulto da comunicação.Por já o ter expressado publicamente por diversas vezes, penso não ser novidade a minha profunda admiração por McLuhan. Nem tão pouco deve surpreender a minha costela “McLuhanista”, oriunda da formação de base recebida no inicio dos anos setenta, e que foi totalmente moldada pelas ideias do nosso “Mestre” de então.Mas este canadiano foi muito mais do que um Guru da comunicação. Sem dúvida que as ideias geniais que introduziu  revolucionaram por completo este domínio do conhecimento e tanto as Relações  Públicas como o Jornalismo, e sobretudo a Publicidade, sofreram alterações  profundas no seu conceito e metodologia. Para além de um dos maiores pensadores  do século XX, McLuhan foi também um filósofo e um historiador que soube como  ninguém rasgar horizontes novos na comunicação de massas.Com ele voltou-se a escrever a história da humanidade a partir da evolução dos Meios de Comunicação, desde a invenção da escrita, até aos nossos dias, passando por Gutenberg e Marconi. A ele se deve também o conceito de “Aldeia Global”, que, com o advento das Redes Sociais, não podia estar mais actualizado.O lançamento do seu livro mais emblemático “The Medium is The Massage”, já perfaz quase meio século (1964) e também ele é de uma actualidade espantosa, ilustrando bem sua visão quase profética da sociedade ocidental.Por curiosidade refira-se que o título do livro é esse mesmo, “massage” e não “message”, que era a ideia original do autor mas que, devido a uma gralha, apareceu com esta forma nas primeiras provas da tipografia.Tanto McLuhan como o editor acharam este erro tipográfico “muito interessante e oportuno” e resolveram manter o título assim mesmo. O que McLuhan queria dizer originalmente com “The Medium is The Message” é que o Meio através do qual se comunica já é em si mesmo parte da própria Mensagem que se quer comunicar, sendo indissociável desta. Esta nova visão alterou substancialmente a forma e o conceito criativo publicitário da altura, que compartimentava excessivamente o “Copy Strategy” e o “Media Strategy”.A “Galáxia Gutenberg” é a outra das suas obras primas, onde a história da humanidade é analisada unicamente através da óptica da comunicação, nomeadamente o período que vai da descoberta da escrita à invenção da tipografia e da palavra imprensa, com Gutenberg. A fase em que as sociedades trocaram o “ouvido pelo olho”, como ele dizia, e  permitiram a disseminação maciça do conhecimento.O mais extraordinário nas suas obras, todas elas de grande profundidade de pensamento, é a simplicidade e a clareza com que McLuhan consegue explicar as suas teorias e os seus pontos de vista. Inúmeras vezes vai buscar exemplos ilustrativos a obras de Shakespeare, James Joyce e outros, autores clássicos para conseguir transmitir a sua mensagem com espantosa clareza.No seu outro livro de referência, “Understanding Media”, analisa os Meios de Comunicação como extensões do ser humano, “tal como o martelo é o prolongamento do braço do operário, os Meios são o prolongamento dos nossos sentidos”.Neste livro transpôs uma passagem extraordinária que não resisto em copiar, pela clareza da descrição.Trata-se do momento exacto em que um ser selvagem e iletrado se apercebe pela primeira vez da importância da palavra escrita, em oposição à palavra oral, a única que conhecia até então. Este texto serve também para ilustrar a tese de McLuhan, sobre a evolução das  sociedades, em que se troca “o ouvido pelo olho”.“Sobre o seu encontro com o mundo  escrito, na África Ocidental, escreveu o Príncipe Modupe: Na casa do Padre Perry, o único  lugar totalmente ocupado era o das estantes de livros. Gradativamente cheguei a  compreender que as marcas sôbre as páginas eram palavras na armadilha. Qualquer  um podia decifrar os símbolos e soltar as palavras aprisionadas, falando-as. A  tinta de impressão enjaulava os pensamentos; êles não podiam fugir, assim como  um dumbu não pode fugir da armadilha. Quando me dei conta do que realmente isto  significava, assaltou-me a mesma sensação e o mesmo espanto que tive quando vi  pela primeira vez as luzes brilhantes de Conacri. Estremeci, com a intensidade de meu desejo de aprender a fazer eu mesmo aquela coisa extraordinária que é: ler!”Apesar de já ter falecido há três décadas (1911-1980), o seu pensamento continua espantosamente actual, tendo conseguido antecipar o efeito de homogeneização e desumanização dos Mass Media, em simultâneo com a aproximação dos povos, muito anos antes da Internet dar os primeiros passos.Parece-me pois de extrema justiça que lhe seja feita esta homenagem nos 100 anos do seu nascimento.Para os interessados, e já que em Portugal não se fez até à data qualquer referência ao assunto, o programa das comemorações do “100 years of Mcluhan! The global village is now”, pode ser consultado em: http://marshallmcluhan.com e no Twitter em @marshallmcluhan.J. Martins LampreiaConsultor/Lobista

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publicado às 12:17

Sinais

por Alda Telles, em 05.01.11
O último relatório do Observatório da Comunicação (Obercom) intitulado “Desafios do jornalismo” parece denotar alguma esquizofrenia. Ou, sobretudo, uma enorme falta de âncoras e referências para a profissão. Como disse há não muito tempo, parece-me existir espaço para a criação de uma associação profissional, capaz de responder às novas realidades do jornalismo. Também publicado aqui.

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publicado às 23:53

Previsões para os media em 2011

por Alda Telles, em 23.12.10
António Quintas e Alexandre Gamela convidaram personalidades dos media para partilharem, num mesmo post, as suas previsões para o sector em 2011. Por alguma razão, também me quiseram ouvir. Não sendo especialista em media, apenas consumidora intensiva e observadora atenta, também lá deixei uns palpites.Previsões de Paulo Querido, António Granado, Alexandre Pais, Rodrigo Saraiva, Manuel Falcão, Paul Bradshaw e Mark Luckie, aqui.O meu desafio/pergunta sobre a criação de um jornal nacional pensado exclusivamente para iPad (à semelhança do Daily iPaper do Murdoch) gerou alguma discordância no Twitter por parte de Paulo Querido e Alexandre Pais, com a argumentação de que não há mercado (possuidores de tablets suficientes). Pois ainda não há, mas Portugal é tradicionalmente um país de early-adopters de gadgets tecnológicos, por isso quem for pioneiro arrisca-se a ganhar bom dinheiro num futuro não tão longínquo. Mas são só palpites.

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publicado às 09:00

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